O culto funerário era fundamental dentro das crenças egípcias. A
morte era uma etapa que conduzia a uma forma melhor de vida. Isso não
significa que eles não curtissem viver. “Gostavam tanto do lugar onde
moravam que, para eles, o paraíso era uma reprodução aperfeiçoada do rio
Nilo e do Egito, com abundância de frutas e outros alimentos”, diz o
egiptólogo Antônio Brancaglion Júnior.
Eles temiam mesmo o que chamavam de segunda morte, a definitiva, que
era o esquecimento completo do morto por seus parentes vivos. O destino
da segunda vida do sepultado estava nas mãos dos familiares, que deviam
renovar periodicamente as bebidas e os alimentos na tumba. O responsável
pela tarefa era o filho mais velho.
A maioria preparava em vida a própria sepultura – como as três
pirâmides de Gizé. As paredes traziam inscrições e pinturas,
principalmente nas tumbas de famílias reinantes ou aristocratas. “Eles
acreditavam que os desenhos criariam vida e lhes trariam o sustento na
outra existência”, diz Brancaglion.
SEM CÉREBRO
Como iriam viver de novo, precisavam de seus corpos no melhor estado
possível. É aí que entram os mumificadores. Eles levavam o corpo para a
tenda de purificação e aplicavam uma solução de natrão, um tipo de sal
que resseca a pele. O cérebro era removido pelas narinas com um gancho
de ferro e as vísceras eram retiradas, com exceção do coração e dos
rins. Os órgãos eram depositados nos canopos, vasos decorados com a
cabeça dos quatro filhos do deus Hórus, e depois colocados no sarcófago.
As cavidades eram preenchidas com resina e substâncias aromáticas. As
bandagens eram feitas com linho. O processo todo levava cerca de 70
dias.
JULGAMENTO CRUEL
Dentro do sarcófago ia o Livro dos Mortos, com encantamentos mágicos
que deveriam ser recitados pelo defunto. Ele ressuscitaria do outro lado
graças a um ritual chamado “abertura da boca”. O sacerdote ou um
parente tocava a boca do morto com um instrumento de metal para que ele
pudesse dizer as palavras necessárias na hora do julgamento.
Esse julgamento era feito por Osíris e seus 42 assessores. Diante de
cada juiz, o defunto declarava não ter cometido determinada infração.
Seu coração era então pesado numa balança. “Se pesasse mais que a pluma
da justiça de Maat, a deusa da ordem universal, o morto seria engolido
por um monstro em forma de crocodilo, leão e hipopótamo e teria, assim,
uma morte definitiva”, diz o historiador Ciro Flamarion Cardoso, da
Universidade Federal Fluminense. Não existiam livros sagrados; as
crenças eram passadas oralmente de pai para filho.
Fonte: Aventuras da História