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A desconfiança diante das instituições públicas
do país faz com que 81% dos brasileiros concordem com a afirmação de
que é "fácil desobedecer às leis". O mesmo percentual de pessoas também
tem a percepção de que, sempre que possível, os brasileiros escolhem
"dar um jeitinho" no lugar de seguir as leis.
O levantamento mostra ainda que a ruptura entre os
cidadãos e as instituições públicas ligadas à Justiça leva 57% da
população a acreditar que "há poucos motivos para seguir as leis do
Brasil", segundo o levantamento. "Isso está relacionado à desconfiança
que as pessoas têm no cumprimento das leis", explica a pesquisadora da
FGV Luciana Ramos.
O Índice de
Confiança na Justiça Brasileira (ICJBrasil) está em sua 8ª edição e é um
projeto do Centro de Pesquisa Jurídica Aplicada, da Escola de Direito
de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas. Será apresentado na íntegra
nesta terça-feira, durante o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, onde
também será divulgado o Anuário Brasileiro de Segurança Pública.
A pesquisa da FVG Direito SP ouviu 7,1 mil
pessoas em oito Estados, de abril de 2013 a março de 2014. Elas foram
convidadas a assinalar desde "discordo muito" a "concordo muito" nas
afirmações propostas.
Segundo a
pesquisa, 32% da população confia no Poder Judiciário. Já a confiança na
polícia fica um ponto percentual acima, com 33%. Apesar de baixos,
esses índices já foram menores - 29% e 31% respectivamente - em pesquisa
anterior.
Os moradores do Distrito Federal foram os que mais
disseram acreditar na saída do "jeitinho" como regra nas relações. No
total, 84% dos habitantes de Brasília disseram concordar ou concordar
muito com a afirmação. Quem menos acredita no desrespeito às regras são
os baianos, mas ainda assim, a porcentagem é alta: 71% deles responderam
que concordavam com a percepção de que todos dão "um jeitinho", sempre.
A
pesquisa também fez um corte por renda. Quanto maior o rendimento da
pessoa, mais alta é a sensação de que as leis não são cumpridas. De
acordo com o estudo, 69% dos entrevistados que ganham até um salário
mínimo concordaram que o "jeitinho" é a regra, porcentual que cresce
para 86% na população que ganha mais de oito salários mínimos.
Já sobre a polícia, a renda não influencia a má
avaliação. Entre as pessoas que ganham até um salário mínimo, 52%
concordam que "a maioria dos policiais é honesta". Para quem ganha oito
salários ou mais, o porcentual é de 50%.
Luciana
Ramos, no entanto, lembra que nem Justiça nem polícia são bem
avaliadas. "Se a polícia faz algo muito errado, isso reflete rapidamente
na população, na confiança que se tem da polícia. No Judiciário, como
as coisas são muito mais demoradas, esse erro demora mais, não tem
reflexo imediato na confiança. Na minha opinião, acho que isso é o que
conta."
Para o aposentado Carlos Afonso Santos, de 87 anos, a
impunidade faz com que as pessoas também passem a desafiar as leis. "Se
não tem punição para dar exemplo e fiscalização, a sensação para quem
faz algo errado é de que nada vai acontecer", afirmou Santos.
Fonte: Estadão