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No encontro que manteve com o novo presidente da Câmara, Eduardo
Cunha (PMDB-RJ), nesta quarta-feira, 4, em Brasília, o cacique kayapó
Nhaket Mekrangnotire disse que os índios brasileiros estão se sentindo
profundamente ameaçados. Ele se referia à Proposta de Emenda
Constitucional 215 (PEC-215), que, após ter sido arquivada, deve voltar à
pauta na Câmara.
O objetivo principal da emenda é
transferir do Executivo para o Legislativo decisões sobre demarcações de
terras indígenas. Os índios temem que, com a crescente força da bancada
ruralista no Congresso, dificilmente acontecerão novas demarcações no
País.
Com a ajuda de um intérprete de sua tribo, que vive
na região de Novo Progresso, no interior do Pará, o cacique Nhaket disse
ao presidente da Câmara: "Vocês são eleitos nas cidades e, em vez de
ficar de bem com todo o povo brasileiro, com os negros, com os índios,
vocês querem destruir o povo do interior, querem destruir índios. Podem
até conseguir acabar com a gente. Mas vai ter muito sangue derramado.
Estamos aqui para pedir: não vote essa PEC."
Nhaket chegou a
Brasília na segunda-feira, 2, à frente de um grupo de 54 indígenas, com
o objetivo de conversar com autoridades do Executivo e do Legislativo.
Na terça-feira, após a intermediação de um grupo de parlamentares, entre
os quais Chico Alencar (PSOL-RJ) e Zequinha Sarney (PV-MA), o
presidente da Câmara aceitou receber cinco representantes do grupo.
Durante
a reunião, no gabinete de Cunha, acompanhada por quatro deputados, mas
sem a presença de assessores, os índios manifestaram preocupação com o
fato de o novo presidente da Câmara já ter se reunido com a bancada
ruralista e manifestado apoio à aprovação da PEC 215.
"Não
somos nós que estamos caçando briga com vocês. É vocês com nós. Sabemos
que o senhor já fez um acordo para a aprovar a PEC", disse Nhaket.
O
presidente da Câmara negou que tenha feito qualquer acordo com os
ruralistas. Também disse que que não é o autor da PEC, nem da proposta
de desarquivamento. "Eu me reúno com todo mundo", afirmou. Caso a
proposta seja mesmo desarquivada, declarou, ele seguirá as normas da
Casa, retomando os debates no ponto em que foram paralisados.
Para
os índios, os parlamentares estariam quebrando os acordos firmados com a
Constituição de 1988 - que tem um capítulo específico sobre a questão
indígena. "O cacique, com uma linguagem muito franca e direta, incomum
aqui em Brasília, disse que os índios vêem a PEC 215 como uma declaração
de guerra", disse o deputado Chico Alencar, que acompanhou o encontro.
Fonte: Estadão Conteúdo