Foto: Ilustrativa |
É bem verdade que os seus salários podem parecer fichinha diante do
que está faturando a agora “aposentada” Gisele Bündchen, que ganha R$ 5
milhões por mês, mas a realidade é que os políticos brasileiros,
incluindo, claro, os deputados estaduais baianos, ganham muito mais do
que um executivo “top” de uma empresa multinacional.
A constatação é do economista e professor Armando Avena, informando
que um executivo “top” de multinacional recebe, no Brasil, algo e entre
R$ 60 mil e R$ 80 mil. Já um deputado estadual baiano, somando-se o
salário nominal (aquele que vem no contracheque), de R$ 25.322,25
(decreto legislativo de 30/12/2014, valendo a partir de 1º de fevereiro
de 2015) à verba de gabinete, no valor de R$ 92.053.20 (resolução 1658,
de 1º de abril de 2015), recebe R$ 117.375,45, sem considerar auxílios
como moradia, alimentação e outros benefícios.
De acordo com Armando Avena, nos países mais desenvolvidos,
“tradicionalmente o político recebe apenas o salário e cobre com ele
todas as suas despesas.” Mesmo assim, o economista destaca que o
problema não é tanto o salário em si.
A questão é que, além desse salário alto, há dezenas de
penduricalhos, como auxílio moradia, auxílio transporte, auxílio
alimentação, além da polpuda verba de gabinete.”
Causa ainda indignação ao economista a aposentadoria precoce e o
efeito cascata nos reajustes, ou seja, quando um deputado federal
aumenta seu salário ou suas verbas, automaticamente isso reverbera nos
salários dos deputados estaduais e até dos vereadores.
Enquanto um deputado estadual recebe mais de R$ 125 mil por mês,
um professor da UFBA, pós-graduado e no mais alto nível que pode chegar,
tem salário em torno de R$ 15 mil.
Já o vencimento total de um coronel da Polícia Militar, conforme informações da assessoria da PM baiana, é de 15.084,46.
Este é o salário base, pois alguns possuem vantagens, inclusive
devido a ações judiciais. De qualquer forma, é certo que, mesmo com tais
vantagens, os vencimentos de um coronel PM não chegam a R$ 40 mil.
Estopim da corrupção
De acordo com estimativa apresentada à Justiça Eleitoral, em 2014,
por oito dos maiores partidos políticos – PT, PSDB, DEM, PP, PMDB, PPS,
PSB e PR, o custo de uma campanha para deputado federal ficou, em
média, em R$ 6,4 milhões, enquanto para o estadual, o valor foi de R$
3,8 milhões.
Para o economista Armando Avena, os custos elevadíssimos das
campanhas devem-se ao fato de o Brasil “permitir que se façam campanhas
dignas de grandes programas de show business do mundo, com produções que
mostram o político como se ele fosse um artista.”
De acordo com Avena, “as campanhas deveriam ser bem mais baratas e
objetivas, mostrando fundamentalmente as propostas de cada um, que é o
que, no fundo, interessa. Na verdade, a campanha, nos moldes de hoje,
chega mesmo a mostrar o político como um produto ideal, produto este que
não pode ser entregue após a eleição”
Ele destaca ainda ser ”totalmente contra” o financiamento privado
das campanhas, até porque “quem paga quer de volta o que gastou, e este é
o estopim da corrupção”.
Federais custam mais R$ 1 milhão por ano
De acordo com informações do presidente do Sindicato dos
Trabalhadores na Assembleia Legislativa da Bahia (Sindsalba), Flávio
Abreu, “na última semana de trabalhos do ano passado, deputados federais
e senadores aprovaram o reajuste salarial para a atual legislatura. Ao
acrescentar o acumulado do IPCA dos últimos quatro anos aos vencimentos
atuais, os contracheques subiram de atuais R$ 26,7 mil para R$ 33,7 mil.
Desta forma, também aumentou o gasto que o País terá com cada
parlamentar.”
Desde 1º de fevereiro, quando o novo subsídio dosdeputados federais
passou a valer, cada parlamentar custa mensalmente R$ 1.792.164,24 aos
cofres públicos. Este valor leva em conta os 13 salários anuais, a média
de gastos da ajuda de custo, do cotão, do auxílio-moradia e dos gastos
com verba de gabinete.
Explica ainda o Sinsalba que “com exceção do salário, os outros
benefícios são usados de acordo com a demanda. Um deputado pode, por
exemplo, economizar verba de gabinete e não usá-la, assim como viajar
menos para seu estado de origem, o que resultará na economia do cotão.
Caso ele não use, os valores ficam na conta da Câmara.”
Como se não bastasse...
Em nível de Câmara Federal, não bastassem os salários gigantescos,
os deputados contam com benefícios que não são muito diferentes dos que
se vê nos estados. Conheça as mordomias:
Carros oficiais: são 11 carros para uso dos seguintesdeputados: o
presidente da Câmara; os outros 6 integrantes da Mesa (vice e
secretários, mas não os suplentes); o procurador parlamentar; a
procuradora da Mulher; o ouvidor da Casa; e o presidente do Conselho de
Ética.
Impressões e materiais
Até 15 mil A4 por mês
Até 2 mil A5 por mês
Até 4 mil exemplares de 50 páginas por ano (200 mil páginas por ano)
Até 1 mil pastas por ano
Até 2 mil folhas de ofício por ano
Até 50 blocos de 100 folhas por ano
Até 5 mil cartões de visita por ano
Até 2 mil cartões de cumprimentos por ano
Até 5 mil cartões de gabinete por ano
Até 1 mil cartões de gabinete duplo por ano
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Até 5 mil cartões de gabinete por ano
Até 1 mil cartões de gabinete duplo por ano
Uma raríssima exceção parece ser o Espírito Santo, onde a verba de
gabinete é de apenas R$ 7.800. Com esse dinheiro, os deputados pagam
as despesas de telefone, gasolina, passagem aérea e postagens.
Desde 1995, os deputados capixabas também não têm direito a auxílio-moradia, nem recebem vale-refeição e auxílio-paletó.
Na Suécia, o outro lado da moeda
Eles ganham pouco, andam de ônibus, cozinham sua própria comida,
lavam e passam suas roupas e são tratados por “você”. Estamos falando de
um representante típico do mal assalariado povo brasileiro? Não. Os
personagens são políticos eleitos pela população talvez mais civilizada e
ética do planeta: a da Suécia.
Esta a realidade que pode causar arrepios nos políticos brasileiros,
país onde as pessoas ainda passam fome e não têm segurança nem
assistência médica dignas, é narrada pela jornalista Claudia Wallin no
livro “Um País Sem Excelências e Mordomias” (Geração Editorial).
Radicada na Suécia depois de trabalhar 10 anos em Londres, Claudia
registra conversas com deputados que desconhecem mordomias e o
tratamento de “Excelência”, que não aumentam o próprio salário e –
acreditem – não entraram na vida pública para enriquecer ou levar
vantagem.
De acordo com Claudia, os políticos suecos entram na vida pública
para servir ao povo. A autora explica que o sistema político sueco é
baseado em três pilares: transparência, educação e igualdade.
Fonte: Tribuna da Bahia