Imagem: Will Soares/G1 |
Estudantes de escolas
públicas fizeram na manhã desta quinta-feira (15) um protesto por vias da
capital paulista contra a reestruturação da rede de ensino estadual que o
governo paulista pretende implantar já a partir do início de 2016. Com a
mudança, cada unidade escolar passaria a receber apenas alunos de um dos ciclos
da educação. Mais de 1 milhão de alunos precisariam ser transferidos com a
medida. Ao final da manifestação, no Palácio dos Bandeirantes, na Zona Sul de São Paulo, houve tumulto.
- Às 8h, protesto começou no Largo da Batata com faixas
e cartazes para criticar a gestão do governador Geraldo Alckmin.
- Às 10h, estudantes saíram em caminhada e fecharam a Avenida Faria Lima.
- Às 10h30, interditaram pista da Marginal Pinheiros.
- Às 11, Marginal Pinheiros foi liberada.
- Às 12h15, manifestantes chegam ao Palácio dos Bandeirantes, sede do governo
estadual.
- Às 13h, mascarados jogam pedras e rojões contra a sede do palácio. Policiais
Militares revidaram com bombas de gás lacrimogêneo.
- Às 13h30, protesto é encerrado sem feridos e sem prisões.
Após uma passeata que começou no Largo da Batata,
em Pinheiros, os alunos seguiam reunidos em frente à portaria 2 do Palácio, na
Avenida Morumbi, quando alguns mascarados começaram a balançar e chutar os
portões.
Pedras, garrafas e até uma lixeira foram atiradas
contra policiais militares que se posicionavam dentro da sede do governo para
acompanhar a manifestação. Um dos mascarados chegou a escalar o muro do
Palácio.
Os mascarados usaram um grande pedaço de madeira para
tentar arrombar o portão. As luminárias instaladas na parede externa da sede
foram arrancadas e destruídas. A PM respondeu com bombas de gás. Pelo menos
seis bombas foram atiradas contra os mascarados que acabaram se dispersando e
fugindo do local.
Na fuga, pela Avenida Padre Lebret, os mascarados
atiraram pedras contra um carro da PM que passava pelo local. O pára-brisas foi
atingido por três vezes e acabou destruído.
O Capitão Alan, que comanda o policiamento na
área, afirmou que, até as 13h45, não havia sido informado sobre alguma prisão
ou atendimento a feridos.
Em nota, o governo estadual afirmou que "A
Casa Militar, responsável pela segurança do Palácio dos Bandeirantes, está
calculando os danos causados pela ação truculenta de vândalos infiltrados na
manifestação. A ação provocou pânico em cerca de 70 crianças de 6 meses a 8
anos, que ficam da creche do Palácio dos Bandeirantes".
De acordo com lideranças da União Municipal dos
Estudantes Secundaristas de São Paulo (Umes), o grupo deve seguir até o Palácio
dos Bandeirantes, no Morumbi, Zona Sul da capital paulista, onde a manifestação
será encerrada. Como a distância até a sede do governo estadual é grande, eles
fizeram uma assembléia para definir o trajeto. Em um debate prévio, a ideia de pular as catracas
do Metrô foi descartada. Grupo votou, então, entre duas alternativas: seguir
rumo ao Palácio pela Avenida Brigadeiro Faria Lima e Ponte Cidade Jardim ou
direto pela Marginal Pinheiros. A segunda opção foi a escolhida pela maioria.
Ainda segundo a Umes, alunos de diversos colégios
da cidade participam do protesto. Entre eles estão desde estudantes da Escola
Estadual Caetano Miele, de Cangaíba, na Zona Leste, até jovens da Escola
Estadual Amador Ecaterina, do Campo Limpo, extremo Sul da capital.
Participantes do protesto se envolveram em uma
pequena confusão na subida da ladeira da Rua das Begônias, já na região do
Morumbi. Enquanto parte do grupo queria parar um pouco para descansar, outros
manifestantes insistiam para que a passeata rumo ao Palácio seguisse sem
interrupções. Após discussão e um tempo de parada, o grupo voltou a caminhar.
Durante uma pausa, uma moradora do bairro saiu de casa para oferecer água aos
estudantes. Relógios digitais da cidade chegaram a marcar 39ºC mais cedo.
O Ministério Público do Estado abriu um inquérito
civil para apurar a
reorganização das escolas estaduais anunciada pela Secretaria Estadual de
Educação. Entre outros esclarecimentos, a promotoria do órgão quer saber se de
fato unidades serão fechadas e quais os benefícios que o governo espera com a
mudança. A Defensoria Pública de São Paulo também já havia pedido explicações à
secretaria.
A portaria, assinada pelo promotor João Paulo
Faustinoni e Silva, solicita que o governo "esclareça, detalhadamente, em
que consiste o novo modelo de organização da rede estadual de ensino em escolas
de ciclo único". O MP quer saber como será executado o plano e se, em sua
elaboração, houve consulta a entidades de classe, conselhos de escola, grêmios
estudantis ou outros fóruns de participação da comunidade escolar.
Além dos benefícios a curto, médio e longo prazo
que a Secretaria Estadual de Educação pretende obter com a reestruturação da
rede de ensino, o MP quer esclarecer se prédios escolares serão fechados, quais
deles fecharão as portas, e para que as estruturas das instituições desativadas
serão utilizadas no futuro.
O órgão também apura se foram realizados estudos
prévios de capacidade para que os alunos que precisarem ser remanejados não
sejam realocados para colégios muito distantes ou com superlotação de alunos.
Segundo o documento, a indefinição em relação à questão da transferência de
estudantes "traz insegurança a crianças e adolescentes e preocupação aos
pais" quanto ao transporte e adaptação dos filhos.
A Secretaria da Educação do Estado de São Paulo
informou que ainda não foi notificada oficialmente da ação, mas ressaltou que
está à disposição para esclarecer todas as fases do processo de reorganização
da rede estadual de ensino. A pasta também afirmou que "o processo vem sendo
feito com responsabilidade e transparência, dentro do prazo divulgado, e sendo
discutido com dirigentes, diretores e comunidade". De acordo com Sandoval Cavalcante, dirigente regional de
ensino, "nenhum aluno ficará sem vaga". Todos os 3,8 milhões de
alunos matriculados na rede estadual continuarão sendo atendidos. O
representante da Secretaria Estadual de Educação ressaltou também que nenhum
espaço escolar será inutilizado.
Segundo ele, em caso de
"disponibilização" de unidades, elas serão utilizadas para outros
serviços de educação. Ou seja, se forem desativadas, as escolas serão
transformadas em creches ou Etecs, por exemplo. Cavalcante explicou ainda que
não há nenhuma decisão definitiva quanto ao apontamento de quais colégios serão
fechados. O dirigente afirma que não está definido nem se algum deles será, de
fato, desativado.
"Nós continuamos com processo aberto. Os
diretores de escola devem encaminhar suas discussões junto às comunidades
escolares. A diretorias de ensino estão abertas a esse procedimento para que
possamos fechar a melhor proposta possível, para que os alunos tenham a vagas
garantidas e a reorganização possa acontecer", completou.
Fonte: G1