Imagem: Thibault Camus/AP |
O grupo radical Estado Islâmico reivindicou neste sábado
(14) a responsabilidade por ataques que mataram mais de 120 pessoas em Paris. É o pior ataque à França na história
recente.
Em uma declaração oficial, o grupo disse que seus
combatentes presos a cintos com explosivos e carregando metralhadoras
realizaram os ataques em vários locais no centro da capital francesa que foram
cuidadosamente estudados.
Na noite desta sexta-feira, tiroteios e explosões
ocorreram em uma casa de shows, em um restaurante, em um bar e em outros três
locais. Entre os feridos, estão dois brasileiros que, segundo a cônsul-geral
do Brasil na França, Maria Edileuza Fontenele Reis, passam bem. De acordo com o
governo francês, oito terroristas morreram.
Em comunicado, o grupo radical Estado Islâmico disse que os ataques foram
cuidadosamente planejados. "Oito irmãos com explosivos na cintura e
fuzis fizeram vítimas em lugares escolhidos previamente e que foram escolhidos
minunciosamente no coração de Paris, no estádio da França, na hora do jogo dos
dois países França e Alemanha, que eram assistidos pelo imbecil François
Hollande, o Bataclan onde se estavam reunidos centenas de idolatras em uma
festa de perversidade assim como outros alvos no 10º arrondissement e isso tudo
simultaneamente. Paris tremou sob seus pés e as ruas se tornaram estreitas para
eles. O resultado é de no mínimo 200 mortos e muitos mais feridos. A gloria e
mérito pertencem a Alá”, diz o comunicado.
O comunicado do grupo afirma ainda que a França e
os que seguem o seu caminho devem saber que eles são os principais alvos do
Estado Islâmico e que continuarão a "sentir o odor da morte por ter
colocado a cabeça na cruzada, ter ousado insultar nosso profeta, se vangloriar
de combater o islamismo na França e atingir os muçulmanos na terra do califa
com seus aviões". "Esse ataque é só o começo da tempestade e um
alerta para aqueles que quiserem meditar e tirar lições.”
O jornal “Le Monde” diz que uma
fonte judicial especificou onde aconteceram as mortes desta sexta, em um
balanço provisório: uma pessoa morreu no boulevard Voltaire; 19 morreram e 14
ficaram feridas em frente ao bar La Belle Equipe, na Rue de Charonne; 78 ou 79
pessoas morreram no Bataclan (entre elas três ou quatro terroristas); cinco pessoas
morreram e oito ficaram feridas na Rue de la Fontaine au Roi; de 12 a 14
morreram e dez ficaram feridas no bar Carillon, na Rue Allibert; e dois homens
morreram nas explosões próximas ao Stade de France, ambos suicidas que
provocaram as detonações.
A polícia invadiu a casa de shows Bataclan às 21h40
(horário de Brasília), após relatos de que pessoas estariam sendo executadas.
Dois terroristas foram mortos na ação. Dez minutos antes da invasão, a Reuters
afirmava que haviam sido ouvidas cinco explosões perto do local.
Por volta da 1h30 (22h30, em Brasília), o presidente
francês François Hollande chegou ao local, onde permaneceu por cerca de meia
hora. “Há muitos feridos, feridos graves, feridos chocados com o que viram”,
disse o presidente, naquele momento, ao justificar porque quis ir ao local.
“Quando os terroristas estão dispostos a cometer
tais atrocidades, eles devem saber que irão encarar uma França determinada”,
acrescentou. “Iremos conduzir a luta (contra os terroristas), e ela será
implacável”, garantiu.
A casa fica no boulevard Voltaire, no 11º
arrondissement, tem capacidade para 1.500 pessoas e era palco de um show da
banda Eagles of the Death Metal. A banda, que na hora do início do ataque terminava
o show no palco do Bataclan, escapou do palco pelos bastidores e está a salvo,
segundo afirmou o irmão de um dos membros, Michael Dorio. O irmão dele, Julian
Dorio, é o baterista do grupo. Em entrevista à CNN, Michael disse que os
músicos chegaram a ver os atiradores, mas encerraram o show quando notaram o ataque
e fugiram. “Quando eles ouviram os tiros eles apenas correram para o backstage.
Ele me disse que viu os atiradores, mas não ficou por ali”, explicou Dorio.
O jornal também citou o relato de
um jornalista da "Europe1", que estava no interior do Bataclan nesta
noite: "Vários indivíduos armados entraram no meio do show", afirmou.
"Dois ou três indivíduos não mascarados entraram com armas automáticas do
tipo kalachnikov e começaram a atirar no público". O jornalista disse,
ainda, que a ação durou de 10 a 15 minutos e que os atiradores eram jovens.
Um usuário do Facebook postou que estava dentro da casa
de shows Bataclan. “Feridos graves! Estão atacando mais rápido. Há
sobreviventes no interior. Eles estão assassinando todo mundo. Um por um. No
primeiro andar, rápido!”, escreveu Benjamin Cazenoves. Em seguida ele postou
que há "cadáveres por todo lado". "É um massacre".
O repórter Julien Pearce estava no Bataclan como
espectador do show. Em entrevista à CNN, ele contou como conseguiu escapar da
casa de shows. Segundo ele, no momento em que os terroristas começaram a atirar no público, ele teve a ideia de se fingir de morto.
"Falei para as pessoas deitarem e se passarem por mortos. Nós esperamos
até que eles recarregassem as armas, então corremos e achamos uma pequena sala
onde nos escondemos", explicou ele.
Pearce não explicou quantas pessoas estavam com
ele nessa sala, mas disse que ela não dava passagem para fora do edifício,
então o grupo esperou dentro da sala até que os atiradores esvaziassem
novamente as armas.
"Então esperamos cerca de cinco segundos.
Eles começaram a atirar, e depois nós corremos de novo. Foi então que eu vi o
corpo de uma mulher, ela tinha levado dois tiros. Eu a levantei e nós corremos
juntos", contou a testemunha. Já na rua, Pearce conseguiu parar um táxi e
foi com a mulher até o hospital. "Não sei se ela sobreviveu, ela estava
sangrando muito."
Segundo o repórter, a segurança na entrada do show
não era rígida. “Eu entreguei o ingresso e entrei. Ninguém me revistou. A
segurança era muito pobre”, disse ele. Ao jornal "Le Figaro", uma testemunha
contou que viu dois homens armados entrarem no Bataclan. "Eles estavam
armados, vestidos normalmente: eles atiraram no exterior e no interior da
sala", afirmou a testemunha.
Uma testemunha do ataque disse à rádio France Info
que os atiradores dispararam contra o público gritando “Alá Akbar” (“Alá é
grande”). “Eu e minha mãe conseguimos fugir do Batacla (...), evitamos os
disparos, havia muita gente por todas as partes no solo”, disse o jovem chamado
Louis. “Uns indivíduos chegaram, começaram a disparar na entrada. Dispararam
contra a multidão gritando ‘Alá Akbar’, acho que com espingardas”.
Charlotte Brehaut é uma britânica que saiu para
jantar com um amigo perto da casa em mora, em Paris. “Estava com um amigo e
sentamos bem na janela de onde os tiros vieram, e eles não atingiram nenhum de
nós”, explicou ela à CNN. Charlotte estima que cerca de 40 pessoas estavam no
local.
“Fui jantar com meu amigo, de repente ouvimos um
monte de tiros, e muitos cacos de vidro vindo da janela, então nos jogamos no
chão com os outros clientes. Então ouvimos mais tiros, e muitos pedaços afiados
de viro atingiam as pessoas no chão”, contou ela, que estima que o ataque durou
entre dois ou três minutos, “mas pareceu muito mais longo”.
Charlotte diz que acredita ter visto pessoalmente
entre três ou quatro pessoas com “feridas fatais”. “Eu estava segurando a mão
de uma mulher. Quando comecei a perguntar para as pessoas se elas estavam bem,
foi então que percebi que ela tinha sido ferida fatalmente. Ela foi atingida no
peito”, disse ela. A jovem não sabe dizer se a mulher estava ou não viva, por
causa do choque e da confusão. “Estava segurando a mão dela, alguém me
perguntou se ela estava respirando, e eu olhei para ela e vi uma poça de sangue
do lado dela. Eu achei que ela talvez estivesse consciente, mas as pessoas
estavam em choque, então não sei.”
François Hollande afirmou em declaração em rede nacional na sexta-feira que
está declarado estado de emergência em toda a França e que os controles nas
fronteiras seriam reforçados. A presidência também anunciou que 1.500 soldados
serão enviados a Paris. O vice-prefeito de Paris, Patrick Krugman, afirmou que vários ataques
aconteceram ao mesmo tempo. Ele disse que houve "entre seis e sete locais
de ataques no centro de Paris e fora.
A polícia emitiu um alerta, pedindo que os parisienses não deixem suas casas,
"a não ser em caso de absoluta necessidade". Lugares públicos devem
reforçar a segurança nas entradas e acolher aqueles que estiverem em
necessidade. A polícia também ordenou que se interrompam as manifestações e
eventos em áreas externas.
Em Paris, os hospitais entraram em "Plano
Branco", um estado de emergência e crise, segundo o "Le Monde".
Cinco linhas de metrô tiveram seus serviços interrompidos. Segundo a BBC, um homem usando uma arma automática
abriu fogo no restaurante Petit Cambodge no 10º arrondissement, deixando ao
menos sete feridos. A Reuters afirma que duas pessoas morreram ali.
Um repórter do "Liberation" que estava no
local disse ter visto ao menos quatro corpos no chão. Já o repórter da BBC
contou dez pessoas deitadas, sem conseguir identificar se estariam mortas ou
feridas. Diversas ambulâncias já chegaram. Um segundo tiroteio teve como cenário o bar
"Le Carillon", segundo o Liberation. Na sequência, outro tiroteio foi
registrado no 11º arrondissement.
A BBC, o Liberation e o "Le Monde" afirmam também que houve três
explosões do lado de fora do Stade de France. O presidente francês, François
Hollande, foi retirado do estádio por segurança levado à sede do Ministério do
Interior, onde acompanha o caso. A agência France Presse diz que ao menos uma
das explosões foi um ataque suicida. Após o final do jogo, o público começou a ser
liberado lentamente.
O presidente americano Barack Obama fez um
pronunciamento em que disse que a situação é “ultrajante” e que os EUA farão o
que for possível para ajudar a França. “Faremos o que for necessário pra
trabalhar com os franceses e as nações ao redor do mundo para buscar justiça”, disse.
“Não quero especular no momento quem é o responsável até que sejamos informados
pelas autoridades francesas que a situação está sob controle”.
Obama disse ainda que o que aconteceu foi "um
ataque contra toda a humanidade". "Aqueles que acham que podem aterrorizar o
povo da França e os valores que eles representam estão errados", afirmou
Obama, dizendo que os EUA estão prontos para ajudar a França a
"responder" ao ocorrido.
Imagem: Christian Hartmann/Reuters |
O primeiro-ministro britânico,
David Cameron, escreveu em seu Twitter uma mensagem em que diz: "Estou
chocado pelos eventos em Paris nesta noite. Nossos pensamentos e orações estão
com os franceses. Faremos o que for possível para ajudar". Na noite de sexta-feira, Rita Katz,
diretora do SITE Intelligence Group, grupo de monitoramento do terrorismo,
postou em seu perfil no Twitter que havia especulações de que o Estado Islâmico
estivesse por trás dos ataques em Paris devido ao envolvimento da França em
bombardeios contra o grupo na Síria.
Katz citou duas mensagens que teriam sido
divulgadas em “canais do Estado Islâmico”. Uma delas diz: “Lembrem-se,
lembrem-se do dia 14 de novembro #Paris. Eles nunca vão esquecer esse dia,
assim como o 11 de Setembro para os americanos”. A outra afirma: “A França envia suas aeronaves com
bombas para a Síria diariamente e mata crianças e idosos, hoje está bebendo do
próprio veneno”.
Katz disse ainda que adeptos do Estado Islâmico
estão celebrando os ataques na França e ameaçam: “Esse é apenas o começo.
Esperem até os istishhadis (suicidas) chegarem em seus carros”. Ela citou
também outra mensagem em canais do Estado Islâmico: “França: à medida que você
mata você está sendo morta”; “Nós estamos chegando, França”.
O hotel Molitor de Paris, onde
está hospedada a seleção alemã de futebol, foi esvaziado ao final da manhã desta sexta devido a um alerta de
bomba. Os jogadores alemães foram levados para outro hotel. Uma equipe
especializada em explosivos esteve no local.
Fonte: G1