Foto: Reprodução |
A audácia de Neymar em
questionar o Ministério Público Federal em São Paulo (MPF/SP) sobre a denúncia
feita contra ele e seu pai após investigação sobre a transferência para o
Barcelona não passou incólume. Ontem, após o jogador publicar um comunicado em
seu site oficial questionando Thiago Lacerda Nobre, procurador-chefe do MPF/SP,
o órgão divulgou detalhes da denúncia, que teve o sigilo quebrado pela Justiça
Federal.
Nela,
o MPF destrincha o que seria uma série de fraudes contratuais para que Neymar
pagasse menos impostos por causa da transferência dele para o clube espanhol.
Diversos valores foram escondidos, segundo o MPF/SP.
“A
negociação da transferência do atleta ao Barcelona foi feita num único
contexto. Ou seja, toda a transação foi feita de forma globalizada, numa única
negociação. Todavia, os valores a receber foram ‘fatiados’ em diversas
rubricas: ‘empréstimo’, ‘indenização’, salários e prêmios, direitos de imagem,
scouting e agência comercial, sendo certo que a maior parte dessas rubricas
foram pagas a diferentes pessoas jurídicas integrantes do Grupo Neymar. Os
casos tiveram o mesmo objetivo: redução da carga tributária”, acusa Nobre.
No meio das investigações, o
procurador encontrou o que entende como outras práticas delituosas de Neymar
pai, a quem acusa de “mentor e articulador” das fraudes. Numa delas, o CNPJ de
uma das empresas criadas para administrar a carreira do craque aparece num
contrato datado 12 dias antes do registro da empresa ser feito. Para o
procurador, um caso de documento antedatado, portanto, configurando falsidade
ideológica.
Em
outra questão apontada pelo procurador, uma das empresas de Neymar foi
contratada pelo Barcelona para observar novos jogadores por 2 milhões de euros.
Segundo a promotoria, o serviço se limitou a “meras compilações de notícias da
internet a respeito de atletas, sem o nível de elaboração compatível com o
preço cobrado”.
A denúncia
aponta que três empresas da família de Neymar - Neymar Sport e Marketing,
N&N Consultoria Esportiva e Empresarial, e N&N Administração de Bens,
Participações e Investimentos - foram usadas no esquema.
Além
de Neymar e do pai (Neymar Santos), Sandro Rosell, ex-presidente do Barcelona,
e Josep Maria Bartomeu, atual mandatário da equipe catalã, são acusados de
sonegação fiscal e falsidade ideológica. A partir de agora, a Justiça, que
recebeu a denúncia em 27 de janeiro, vai analisar e decidir se acatará. Se sim,
os quatro se tornam réus. Se condenados, podem pegar pena de até cinco anos de
prisão.
Os
dirigentes do Santos, por enquanto, só constam na denúncia como testemunhas.
Mas o MPF/SP avisa que as investigações continuam e mais pessoas podem ser
denunciadas à Justiça Federal. Em seu site, mais cedo, Neymar, além dos
questionamentos ao procurador Nobre, publicou contratos com o Santos e das
empresas da família, chegando a falar em “suspeita de alguém ‘muito
interessado’, em busca de holofotes e que não se importa muito com a lisura da
denúncia”.
Na Espanha
Em Madri, Neymar e seu pai depuseram ontem
à Justiça espanhola no processo investigativo que o país europeu realiza sobre
a transferência dele do Santos para o Barcelona. O jogador falou durante uma
hora e respondeu às perguntas da procuradoria e de seus advogados. Neymar pai
defendeu que o filho não teve qualquer interferência nos contratos da
transferência. O atacante não falou com a imprensa.
O
processo na Audiência Nacional, órgão da Justiça da Espanha, está em fase de
instrução. O juiz José de la Mata acolheu a queixa da empresa brasileira DIS
Esportes e Organização de Eventos, que detinha 40% dos direitos econômicos de
Neymar quando ele era jogador do Santos - a transferência ocorreu em 2013.
A
empresa se considera prejudicada porque o jogador e o clube teriam,
supostamente, ocultado o real valor da transação. Oficialmente, a transferência
de Neymar custou 57 milhões de euros, sendo 17 milhões pagos ao Santos. Um
contrato firmado entre Neymar, seu pai e os dois clubes em 2011 teria
assegurado ao jogador 40 milhões de euros, em troca da garantia da
transferência dois anos depois.
A
investigação estipulou que o valor real da transferência foi de 83,3 milhões de
euros. O Santos alega que também foi enganado pelo atleta.
Na Audiência de Barcelona há outra investigação em andamento sobre os supostos delitos fiscais cometidos durante a transação.
No
processo, em que Neymar e os dirigentes do Barcelona depõem na condição de
investigados, sob suspeita de estelionato e corrupção privada, o juiz José de
la Mata considera que as duas partes “simularam contratos para disfarçar o que
na realidade era pagamento por transmissão de direitos federativos”.
Fonte: Ivan Dias Marques | Rede Bahia