Foto: Ilustrativa | Cawdialogos |
Por Sérgio Marcone
Cusparada,
torturador, filhos, esposas, Deus, mães e até corretores de seguros. O “sim” ao
prosseguimento do impeachment da presidente Dilma Rousseff foi recheado de dedicatórias e de atos rocambolescos. Dias seguintes à sessão no Congresso
Nacional, a imprensa e as redes sociais insistiam em dizer ser vergonhosa a
performance de nossos deputados federais. Realmente. Esperávamos, digamos, um
nível mais elevado para uma decisão tão impactante para toda uma nação. Mas
acho muito perigoso tratar o Congresso em terceira pessoa. É sempre “eles são
corruptos”, “cambada de ladrões” etc. Esquecemos que foram eleitos por nós e
fazem jus a um preceito constitucional de “nos” representar.
Num
país em que esquecemos rápido em quem votamos na última eleição, acompanhar
como o “seu” deputado votou parece ser trabalho árduo. De qualquer forma, para
o bem ou para o mal, sobra o resultado da votação: a maioria do Congresso votou
pela continuação do processo de impeachment.
Diante
de todas aquelas falas para justificar seus votos, uma chamou-me a atenção: a
do deputado Irmão Lázaro (PSC-BA). Ao falar em soberba, ele entabulou de uma só
tacada um pecado capital e o pecado da capital. “A soberba precede a ruína”,
disse o deputado citando um Provérbio.
Há
no histórico do Planalto uma sucessão de exemplos, tirados de testemunhas
oculares, de que a presidente Dilma não é afeita a mudar seu ponto de vista e
que não é muito de “conversar” com congressistas. Suas relações institucionais
sempre foram tensas, muito diferentes do estilo bom-de-papo do ex-presidente
Lula. A um ministro já dissera “que quando o senhor tiver 54 milhões de votos,
o senhor pode opinar”, diante de uma posição contrária à sua. E na carta em que
o vice –presidente Michel Temer lhe enviou em 7 de dezembro do ano passado ,
ele se queixou de que “os acordos assumidos no Parlamento não foram cumpridos”.
Ou seja, há uma espécie de “eu futebol clube” da presidente, o que é sabido
como fatal no lamacento jogo da política.
Pela
pouca citação ao verdadeiro motivo do pedido de impeachment – o descumprimento
da Lei de Responsabilidade Fiscal, mais precisamente pelas “pedaladas fiscais”
– ficou nítido ser o distanciamento da presidente com os congressistas o maior
motivo para um possível afastamento do cargo. Claro que a crise econômica,
o desemprego e a corrupção também entraram nas falas, mas estes fatores
funcionaram como um pano de fundo, a cereja para quem deu um bolo.
A
permanência de Dilma no cargo ficaria à mercê da expiação de sua soberba em
nome da governabilidade. Palavrinha que quer dizer muita coisa no jargão
político brasileiro e que, não raro, se transforma em toma-lá-da-cá.
Mas
essa é uma outra história...
Sergio Marcone é formado em Letras Vernáculas pela UEFS e pós graduando em Comunicação em Mídias Digitais pela Unifacs |
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