Imagem: Divulgação |
Por Edgard Abbehusen
Está todo mundo nu. Gravação
envolvendo Jucá tira a roupa da política, da justiça e coloca o coro contra a
corrupção em situação patética.
Sei que muitos que quiseram tirar Dilma e foram às
ruas para isso, estavam indignados, revoltados - com razão, reconheço. Muitos
queriam, realmente, o fim da corrupção. Muitos, também, sentindo no bolso a
crise econômica, imaginaram que, sem Dilma, as coisas iriam melhorar.
Mas o que se viu, já mesmo durante as prerrogativas
de suposições de nomes ministeriais do governo legitimo (do golpe), foi
justamente o contrário. Esse legitimo governo (do golpe) não conseguiu, sequer,
gerar confiabilidade econômica e o mercado continuou oscilando.
Em seu primeiro discurso como presidente (do golpe) temer – em minúscula, mesmo – tentou, sem sucesso, ser simpático ao afirmar que
manteria e melhoraria os programas sociais. Em alguns segundos, pra começar, já
anulava a construção de milhares de casas do Minha Casa Minha Vida.
Extinguiu ministérios importantes, menosprezou as
minorias e foi duro com a classe artística jogando o Minc para escanteio.
Recebeu reações. Foi parar no tapete vermelho - quanta ironia. Pressionado,
recriou o Minc.
A mídia, compactuada a passar a sensação de
tranquilidade para as massas, tentou – de forma jocosa – driblar a opinião
pública.
As panelas sumiram, a indignação se transformou em
vergonha.
E, desde que entrou pela janela da sala da
presidência, temer mostra-se surpreso com as contas, com o rombo, com o
déficit. Ameaça expor, em rede nacional, todas as dívidas do governo (eleito)
para o governo (do golpe). Se esquecendo, porém, que ao lado de Dilma, esteve
ele. Que, inclusive, pedalou tanto quanto ela – e até mais, segundo decretos
assinados e autorizados pelo próprio.
Odorico Paraguaçu, personagem criado por Dias
Gomes, certamente diria que “isto deve ser obra da esquerda comunista,
marronzista e badernenta”. Complementaria que todos que protestam contra o
‘legitimo do golpe’ são viúvas de cargos e salários, ajudando a entonar o coro
que se segue.
Mas, depois dessa segunda-feira, 23, ao saber dos
acontecimentos desse 10º dia do temer na cadeira da presidência, Odorico diria
que chegou a hora de “botar de lado os entretanto e partir logo pros finalmente.”
O golpe não era contra a corrupção, era a favor
dela.
E não há santificação de Dilma e do PT com essa afirmação. O PT e os seus membros envolvidos em corrupção vem sendo punidos desde o mensalão, é fato. O PSDB, PMDB, os helicópteros entupidos de cocaína, a merenda escolar do Estado de São Paulo, tudo isso passa como uma ventania boa pra distrair otário. Depois, todo mundo é absolvido.
E não há santificação de Dilma e do PT com essa afirmação. O PT e os seus membros envolvidos em corrupção vem sendo punidos desde o mensalão, é fato. O PSDB, PMDB, os helicópteros entupidos de cocaína, a merenda escolar do Estado de São Paulo, tudo isso passa como uma ventania boa pra distrair otário. Depois, todo mundo é absolvido.
O que aconteceu nessa segunda-feira é grave. Mostra
como nosso sistema político é falho e vergonhoso. Mostra que, mesmo diante
daquela palhaçada do dia 17 de abril de 2016, nós somos os palhaços.
Fosse
Dilma a presidente e um dos seus ministros, de forma clara e objetiva,
negociando barrar a Lava Jato, a mídia já teria incitado
o povo às ruas, como no dia em que o “Bessias” levou o papel e uma presidente
da república teve sua conversa grampeada. O dia em que Lula disse que a justiça
estava acovardada. Aquele dia em que a justiça virou política. Hoje, a justiça
foi citada como cúmplice de bandidos.
Os que estão no poder de forma legitima – para o
golpe – tratam a corrupção com naturalidade e a frieza de um psicopata. Tratam
todos nós, os contra e a favor do impeachment, como imbecis. Nos jogam um
contra os outros enquanto acordões estão sendo pactuados nos porões de lama de
Brasília.
Mas, dessa vez, o sistema se despiu inteiro.
Eduardo Cunha, Renan, STF, Temer, Jucá, Senado, Deputados. Todos eles ficaram ainda mais nus do que já estavam.
As panelas e o povo às ruas
nunca foram tão necessários como nessa segunda-feira, 23.
Em Cachoeira, os alunos da UFRB gritaram, em manifestação na semana passada: “Se empurrar, o Temer cai.”.
Mas, se nos calarmos agora,
quem cairá somos nós. Nossa democracia já foi à lona. Que peguemos o mínimo de
dignidade que ainda temos como pátria, e usemos para resgatá-la.
E, parafraseando mais uma vez Dias Gomes com seu eterno Odorico, “não vamos ficar aqui com essa cara de seu-Malaquias-cadê-minha-farofa! É hora de tomar os providenciamentos necessários!"
*As opiniões emitidas em artigos assinados no site Diário da Notícia são de inteira e única responsabilidade dos seus autores.