Foto: Ilustrativa | Ipbcarandai |
Por Sergio Marcone Santos
Não, não vou falar do
filósofo romano Cícero, que escreveu um tratado sobre o tema. Vou, sim, falar
algumas coisas sobre a amizade a partir de minhas vivências e pontos de vista.
Penso sobre a amizade. Acho que ela é, ainda, um fenômeno, um acontecimento em nossas vidas e que mesmo que algumas delas durem anos, décadas, não só merecem ser vividas, mas também contempladas. Eu tenho a sorte de amores tranquilos: eu tenho amigos. Mas o fato de eles existirem não significa necessariamente que se trata de amor perene, presente, que me acompanha durante muito tempo e que está sempre à minha disposição nas horas incertas. Tenho amigos que vão e vêm. Que passaram por mim, que passaram um tempo sem aparecer, mas eis que ressurgem e voltamos a caminhar juntos. O tempo, esse senhor tão bonito, parece ter ficado em suspenso para que as mãos voltassem a se enlaçar com sorrisos e planos, enfim, com amor.
Mas porque temos tão poucos
já que é tão bom ter amigos? Tento um palpite: não temos poucos, temos o
suficiente. Você não precisa de tanta gente assim para ser feliz. Você precisa
de um para contar seus problemas e ouvir conselhos, de um para rir, para tomar
café, para conversar sobre filmes, livros e música e para pedir dinheiro emprestado.
Se este mix vem em 50 ou em dois amigos pouco importa. O que importa é que você
comece por enxergar o que é qualidade na amizade, a quantidade é um detalhe que
só vai interessar a ególatras, que adoram viver rodeados de gente para que suas
sandices sejam aplaudidas e legitimadas pelos outros.
Há ainda a máxima tirada da
Bíblia de que se reconhece um amigo quando realmente se precisa de algo. A
tendência, portanto, é que eles sumam quando você precisa. Comigo isso nunca
aconteceu. O que eu poderia julgar como um recuo de alguém foi-me entendido
mais como um problema meu que do outro. Eu não posso pautar minha vida com
todas as suas adversidades a partir do auxílio do outro, mesmo porque nunca
sabemos se naquele momento a pessoa à qual você pediu auxílio está apta a te
ajudar. Talvez ela é que esteja precisando de você, mas no afã de resolver logo
seu imbroglio você nem percebeu.
Desconfio de amigos que não
discordam nem “brigam” (podem tirar as aspas à vontade). Dizer amém a tudo o que
você diz ou pensa é tudo de que você não necessita, embora persigamos figuras
com esse perfil para dizermos a nós mesmos “tá vendo? Eu sei que estou (sempre)
certo!”. Nunca tive medo de pedir conselhos, de contar segredos íntimos, de partilhar
angústias. Também sou um agraciado por meus interlocutores, sobretudo por
aguentarem minhas lamúrias. Ouvir já é um gesto de amor!!
Quanto às traições de
amigos, te digo que elas existem. Mas, mais uma vez recorro à nossa cegueira
que nos impediu de ver um ser falho. Faltou atenção nossa. Ficamos embevecidos
por aquela figura tão sagaz e eloquente (sim, figuras “lindas” são os
traidores) e nos enredamos em nosso próprio Eu vendo-o, ouvindo-o, partilhando
de sua companhia. Sacou agora quem é o lobo homem ou quer que eu desenhe?
Por fim, injusto seria citar
meus amigos aqui, claro, sob pena de esquecer alguém, mas, sobretudo, seria
chamá-los de ignóbeis por não se reconhecerem nessas linhas.
Louvo a Deus por suas vidas
e, destarte, louvo por ser vocês.
Sergio Marcone Santos é formado em Letras Vernáculas pela UEFS e pós graduando em Comunicação em Mídias Digitais pela Unifacs |
*As opiniões emitidas em artigos assinados no site Diário da Notícia são de inteira e única responsabilidade dos seus autores.
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Opinião