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A TV Globo se recusou a veicular os comerciais da campanha nacional de vacinação infantil contra o sarampo e a poliomielite promovida pelo Ministério da Saúde. O motivo teria sido a presença de personagens de mídias concorrentes, como a Galinha Pintadinha.
A informação foi dada pelo jornal Folha de S. Paulo que teve acesso aos e-mails trocados pela emissora com a agência de publicidade contratada pelo ministério, por meio da Lei de Acesso à informação.
Os demais canais e principais concorrentes da Globo como a Record, SBT, Band, Rede TV e TV Brasil mostraram as peças. No entanto a recusa da Globo pode ter ajudado na baixa adesão à campanha, uma vez que a emissora detém a maior audiência da TV aberta, como apontaram algumas autoridades do ministério. Em um dos e-mails enviado à agência Fields, contratada pelo Ministério, o executivo de Negócios da Globo André Timóteo justificou a recusa da emissora com algumas restrições padrões do comercial.
Sobre a Galinha Pintadinha, pontuou que: "Além do canal Youtube, é um desenho animado disponível em plataformas de streaming (Netflix). Sendo assim, não pode ter veiculação da Globo". Já em relação a Xuxa, ex-apresentadora da Globo, ele escreveu que a TV, "infelizmente" tem o costume de recusar campanhas publicitárias com "personagens de programas da Globo ou que tenham a finalidade de evocar determinado personagem ou programa da Globo ou emissoras concorrentes".
Ele ainda disse que a apresentadora até poderia aparecer no estilo anos 80, caracterizando mensagem publicitária antiga, mas não com uma referência direta ao "Xou da Xuxa", seu extinto programa na Globo. O personagem do jogo "Just Dance" também contribui para a decisão do canal de televisão. Timóteo citou a possibilidade da empresa responsável pelo jogo ter ganhos com a veiculação. E finalizou: "Infelizmente, para veiculação na Globo, precisamos atentar a essas questões". O ministério da Saúde e até o Palácio do Planalto tentaram recorrer da decisão.
No primeiro dia da campanha (01 de agosto), a emissora sinalizou um recuo e disse que mostraria o material "mesmo com a aparição do desenho animado da Galinha Pintadinha". No entanto, uma nova restrição teria sido apresentada. Mesmo com a autorização concedida pela Justiça Eleitoral no fim de junho, a executiva de negócios da TV Clarice Lima informou: "Estamos neste momento em processo de decisão sobre a assinatura do material, a partir da autorização do TSE, e logo retornarei com uma posição definitiva".
E então a campanha foi novamente reprovada pela Globo, desta vez sob o argumento de que embora não constasse a logomarca do governo federal, o filme vinha com a inscrição do ministério. Justificou que, uma vez que o ministério integra o governo, seu entendimento é o de que não poderia haver referência ao órgão. Então a emissora teria sugerido nova submissão do material ao TSE.
Com a campanha já em andamento, a identificação do ministério não foi retirada porque, segundo a pasta, é proibido, de acordo com a Constituição, a veiculação de publicidade sem a indicação da autoria. O órgão afirmou que a exigência da Globo poderia gerar problemas com órgãos de controle, como o tribunal de contas.
A Saúde argumentou mais uma vez enviando à emissora a decisão de Fux que autorizava, em julho deste ano, a propagação de uma campanha do Ministério da Educação, sobre o Enem que não tinha referência direta ao governo, porém na peça constava a assinatura da pasta. Em setembro, por decisão da ministra Rosa Weber, a aparição de "Ministério da Saúde" na campanha nacional de imunização foi liberada. "Tratando-se de campanha que objetiva assegurar a autenticidade de informações de saúde pública, principalmente no tocante à vacinação com vista ao esclarecimento da população em geral e incentivo à sua participação, autorizo a veiculação pelo Ministério da Saúde como órgão responsável pela campanha", escreveu Rosa.
Em sua defesa, a TV Globo informou que as informações do e-mail correspondem ao procedimento padrão do setor de Marketing da empresa e estes evitam “problemas com direitos e/ou apropriações indevidas”. A emissora ainda declarou que não teria se negado a veicular a mensagem se esta viesse com a “necessária autorização do TSE”. "As ressalvas citadas [sobre personagens de concorrentes] foram feitas diante do recebimento do roteiro da campanha e retiradas quando do recebimento do filme pronto, cuja veiculação ficou pendente da expressa autorização do TSE para a veiculação com menção ao Ministério da Saúde, que nunca recebemos."
A emissora ainda ressaltou que as campanhas de vacinação regionais, com o devido "OK" dos tribunais regionais eleitorais, foram veiculadas na Globo, além de "inúmeras reportagens" em telejornais.
Fonte: correio24horas