Foto: Mauro Pimentel |
A procuradora-geral da República, Raquel Dodge, afirmou nesta quinta-feira (29) que havia "infrações criminosas muito graves" ocorrendo no Rio de Janeiro ao justificar a prisão do governador do estado, Luiz Fernando Pezão (MDB). O vice-governador, Francisco Dornelles, assumirá o governo interinamente.
Pezão foi preso por volta das 6h no Palácio Laranjeiras, residência oficial do chefe do estado. Além do governador, outras seis pessoas foram presas na operação batizada de Boca de Lobo, entre elas os secretários de Obras, Iran Peixoto Júnior, e de Governo, Affonso Henriques Monnerat Alves da Cruz, e o sobrinho do governador, Marcelo Santos Amorim. Até as 13h30, dois mandados de prisão ainda não haviam sido cumpridos.
Dodge explicou que embora as investigações sejam realizadas há algum tempo, as prisões foram necessárias porque crimes como o de organização criminosa e lavagem de dinheiro ainda estão em curso.
"Um dos crimes em curso é o de organização criminosa, continua atuando e especialmente à lavagem de dinheiro. A lavagem é o crime que se pratica após a corrupção e que consiste em ocultar onde o dinheiro está. Pelas informações, continua a ser feito", disse a procuradora.
A procuradora-geral da República afirmou que o crime de lavagem de dinheiro é "igualmente grave" porque, "se o dinheiro desviado pela corrupção continua na posse de quem desviou, o patrimônio publico terá dificuldade em ser recomposto".
Dodge ressaltou que "o esquema criminoso" que atua no Rio de Janeiro se instalou "em diversas unidades públicas do estado". Ela disse ainda que "muitos já estão condenados e presos, mas percebeu-se que este esquema criminoso ainda não cessou".
"E é por essa razão, os infratores ainda praticarem esse crime, que chegou-se a necessidade de requerer prisão preventiva para a garantida da ordem pública", disse a PGR.
Segundo a investigação, os valores que teriam sido recebidos por Pezão são “incompatíveis com a renda declarada dele” e “seguem ocultos”. Por isso, a prisão preventiva do governador foi decretada.
Ele foi levado para a sede da PF no Rio. De lá, Pezão deve ser transferido para a unidade prisional da PM em Niterói, onde também está detido o ex-procurador-geral de Justiça do Rio de Janeiro, Claudio Lopes.
O Ministério Público afirma que esses recursos teriam origem em duas fontes principais: a mesada paga pelo delator Carlos Miranda e contratos de serviços públicos com o governo estadual, principalmente na área de transporte.
Carlos Miranda detalhou o pagamento de mesada de R$ 150 mil para Pezão na época em que ele era vice do então governador Sérgio Cabral. Também houve, segundo a delação, pagamento de 13º de propina e ainda dois bônus de R$ 1 milhão como prêmio.
O procurador-regional da República Leonardo Cardoso de Freitas, que atua no Rio de Janeiro, explicou que Pezão sucedeu no esquema de corrupção ao ex-governador Sérgio Cabral, que também está preso.
“Há dois anos, na prisão do Sérgio Cabral, nos perguntaram: 'E o Pezão?' Não esquecemos e estamos aqui hoje para responder. O que se verificou é que a organização criminosa do Sérgio Cabral se reinventou com uma sucessão de pessoas. Assim, o Sérgio Cabral foi sucedido por Pezão; Wilson Carlos [ex-secretário de Governo do Cabral] foi sucedido pelo [secretário de Governo] Affonso [Monnerat], também condenado na Calicute, também preso na Furna da Onça e que agora é alvo de um novo mandado.
O secretário de Obras também foi sucedido pelo José Iran”, afirmou.
Sobre a prisão de Pezão a um mês do fim do mandato, Freitas argumentou que os pedidos de prisão foram formulados “no primeiro momento possível” e que o tempo do Judiciário não se pauta pela agenda política.
Segundo Leonardo Cardoso de Freitas, além da delação de Carlos Miranda, um "quadro robusto" de provas foi colhido para a realização da operação de hoje. O procurador destacou bilhetes que faziam menção ao nome de Pezão em pagamentos de propina e que foram apreendidos há dois anos no apartamento de Luiz Carlos Bezerra, apontado como um dos operadores de Sérgio Cabral.
A procuradora Raquel Branquinho, que coordena as investigações penais na PGR, disse que há elementos que apontam que os pagamentos continuaram a ser feitos mesmo após o Pezão ter assumido o governo.
Fonte: G1