Foto: Paulo Victor Nadal |
O Democratas vai entrar numa saia justa caso opte por não apoiar formalmente o governo de Jair Bolsonaro. O futuro presidente da República ainda não assumiu, porém já escolheu três quadros do DEM para o primeiro escalão e deve pressionar para que a legenda componha a base aliada no Congresso Nacional, ainda que, oficialmente, nenhum deles tenha sido indicação do partido.
Tudo começou com a ascensão de Onyx Lorenzoni como articulador político do Planalto junto à Câmara dos Deputados e ao Senado – ainda que senadores tenham feito desdém da função ocupada por ele. O deputado federal é aliado de Bolsonaro desde o primeiro turno e era esperado na Esplanada dos Ministérios. No entanto, ao longo das últimas semanas, mais dois nomes do DEM foram confirmados pelo presidente eleito: Tereza Cristina, na Agricultura, e agora Luiz Henrique Mandetta, na Saúde.
O prefeito de Salvador e presidente nacional do DEM, ACM Neto, garantiu publicamente que o partido não fechou questão sobre aderir ao governo Bolsonaro. Para a sigla, mais importante do que espaço em um governo pouco previsível é a manutenção de Rodrigo Maia (RJ) como presidente da Câmara.
A legenda, que quase minguou durante os governos petistas e ganhou uma sobrevida expressiva após 2012, sabe que o posto de Maia é mais relevante politicamente do que qualquer cargo sujeito aos humores de Bolsonaro.
Por isso, ainda que dê sinais de aproximação, o DEM só deve se posicionar depois de uma definição dos rumos da eleição do Legislativo federal.
Durante a campanha eleitoral de 2018, o partido mudou de caminhos após a derrocada da candidatura de Geraldo Alckmin (PSDB) ao Palácio do Planalto. No entanto, um grupo minoritário da legenda flertava com Bolsonaro desde o princípio, o que facilitou essa aproximação.
Mesmo politicamente, a posição à direita do DEM torna a sigla solidária aos gestos mais extremistas do presidente eleito, ainda que não concorde integralmente com as posturas.
A musculatura do DEM no governo, inclusive, começou a causar ruído dentro do grupo político do entorno de Bolsonaro. Começaram a circular rumores de que o PSL, partido emprestado para eleger o presidente, está com menos prestígio do que membros do Democratas, o que pode causar desgastes desnecessários na futura base aliada.
Bolsonaro pode não ter oficialmente a intenção.
Porém coloca “a faca no pescoço” do DEM para que o partido aceite compor o governo no Congresso da mesma maneira que possui espaços na Esplanada. Como condutor desse processo, ACM Neto será testado mais uma vez na articulação para evitar que a legenda saia reduzida à linha auxiliar de um presidente eleito e que não teve o apoio primário do partido.
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