Foto: Ernesto Rodrigues |
O médium João de Deus, de 76 anos, disse à Polícia Civil que, antes de as denúncias de abuso sexual virem à tona, ele foi ameaçado por um homem, por meio de uma ligação de celular. Durante o depoimento, o médium negou os crimes e que tenha movimentado R$ 35 milhões nos últimos dias.
A TV Anhanguera teve acesso com exclusividade ao depoimento, que durou 3 horas, e ocorreu após a prisão do médium, neste domingo (16). Além de João de Deus, estavam na sala três delegados, uma escrivã e três advogados do médium.
João de Deus teve a prisão decretada na sexta-feira (14) a pedido da Polícia Civil e do Ministério Público Estadual de Goiás (MP-GO).
No domingo, ele se entregou à polícia em uma estrada de terra em Abadiânia, no Entorno do Distrito Federal. O líder religioso está detido em uma cela de 16 m² no Núcleo de Custódia do Complexo Prisional de Aparecida de Goiânia, na Região Metropolitana da capital.
Nesta segunda-feira (17), a defesa dele protocolou um pedido de habeas corpus. O advogado Alberto Toron informou ao G1 que a intenção é que João de Deus tenha direito de prisão domiciliar enquanto o caso é investigado. Entre os argumentos está a idade, já que o preso tem 76 anos, e a saúde debilitada.
No início do depoimento, João de Deus contou que ganha R$ 60 mil por mês, fruto da renda das sete fazendas que possui em Goiás. Ele afirmou também que extrai pedras preciosas em duas das propriedades, mas não sabe precisar o lucro com este trabalho.
O médium declarou ainda que possui carros e várias casas. Porém, não sabe a quantidade de imóveis porque alguns foram doados aos filhos.
Até sábado (15), a polícia tinha procurado o médium em mais de 30 endereços sem sucesso. Ele já era considerado foragido pelo Ministério Público. A suspeita de que ele estava tentando ocultar patrimônio reforçou o pedido de prisão.
Segundo o jornal "O Globo", as investigações apontam que o líder religioso retirou R$ 35 milhões de contas e aplicações financeiras desde que as primeiras denúncias de abuso sexual vieram à tona. Ele nega qualquer movimentação milionária e afirma que os decontos que ocorreram foram referentes ao pagamento de funcionários.
Durante o depoimento, João de Deus contou como descobriu a mediunidade. Ele também detalhou o funcionamento da Casa Dom Inácio de Loyola, em Abadiânia, onde ele realiza os atendimentos espirituais. Os abusos, conforme as vítimas, teriam acontecido no locla.
Nesta parte do interrogatório, ele citou que lá também conta com uma lanchonete e um laboratório farmacêutico no templo. O médium reforçou que os visitantes não sofrem coação para comprar os remédios e há auxílio a quem não tem condições financeiras de pagar.
“Todos os remédios são iguais, mas a energia presente é a indicada para cada um dos frequentadores”, disse o médium.
De acordo com o investigado, ele dedica três dias da semana para os atendimentos espirituais e os demais para afazeres pessoais e econômicos.
João de Deus declarou que os atendimentos são coletivos. No entanto, em alguns casos há sessões individuais.
“São as pessoas que o procuram em busca de atendimento individualizado e não há critério que utiliza para levar alguém para um atendimento individualizado, uma vez que são os frequentadores quem solicitam tal atendimento e não ele”, consta no depoimento.
O médium afirmou que possui uma sala na Casa Dom Inácio de Loyola, cuja porta é transparente. Ele declarou que “nunca trancou a porta para atendimentos e, muitas vezes, é o atendido quem a tranca”.
Segundo João de Deus, a sala também possui um sofá, um local para refeição e um banheiro. Ele contou também que há duas janelas na sala, uma geralmente fica aberta e a outra fechada.
Questionado sobre as vítimas, ele se lembrou do atendimento a uma delas, que ocorreu em outubro deste ano. No relatório, ele afirma que a mulher estava acompanhado do namorado, que também frequenta a Casa Dom Inácio de Loyola, e que deu alguns quadros à visitante.
Apesar de João de Deus negar as acusações das vítimas, o delegado-geral da Polícia Civil, André Fernandes, afirma que os relatos de abusos durante atendimentos na Casa Dom Inácio de Loyola são muito contundentes. Até as 12h desta segunda-feira, 15 prestaram depoimento.]
"O interrogatório não consegue superar as denúncias, as oitivas das mulheres que narraram de forma tão segura e detalhada o que viveram. Somado com outras provas que a polícia terá até o fim das investigações, o Poder Judiciário terá vastas informações", declarou o delegado.
João de Deus deve ser ouvido novamente. “Vamos confrontar o que ele falou com as provas que temos e com os depoimentos colhidos e analisar tudo. Devemos ouvir ele uma segunda vez, mas primeiro precisamos fazer esses comparativos”, explicou.
Com a prisão do médium, a Polícia Civil acredita que mais vítimas devem surgir. O delegado explicou que deve se encontrar nesta segunda-feira com o Ministério Público, que também montou uma força-tarefa para apurar os casos e já recebeu mais de 300 denúncias contra João de Deus.
Fonte: G1