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Mãe Stella de Oxóssi, que morreu aos 93 anos em dezembro de 2018, foi alvo de ofensas nas redes sociais após a prefeitura inaugurar, na última quarta-feira (2), uma avenida em Salvador que leva o nome da religiosa, que era uma das principais ialorixás do Brasil. O caso foi levado ao Ministério Público da Bahia.
A ofensa foi escrita em um comentário no Instagram do prefeito ACM Neto, quando o gestor publicou sobre a inauguração da avenida como homenagem a Mãe Stella.
Na rede social, a mulher chamou Mãe Stella de "macumbeira".
"Um absurdo colocar o nome de uma avenida com o nome dessa macumbeira. Em vez de procurar a Deus, vai procurar fazer macumba para o mal dos outros", escreveu a mulher, que é professora de uma escola particular. Após repercussão do caso ela apagou o perfil das redes sociais.
Após as ofensas, o terreiro Ilê Axé Opô Afonjá, o qual Mãe Stella liderava há mais de 40 anos, denunciou o caso ao Ministério Público do Estado (MP-BA).
"Foi triste, decepcionante, porque Mãe Stella não merecia, não merece palavras ofensivas e ataques intolerantes. Nós vivemos em um país laico e qualquer pessoa tem condições de professar a sua fé. Nós somos de candomblé, não atacamos ninguém", disse Ribamar Daniel, presidente da Sociedade Cruz Santa do Afonjá, responsável pela manutenção do terreiro Ilê Axé Opô Afonjá.
De acordo com o MP-BA, um procedimento para apuração da denúncia foi instaurado. A pena para a pessoa que fez as ofensas pode ser de dois a cinco anos.
Os casos de intolerância religiosa dobraram em 2018 comparados a 2017. Segundo a Secretaria de Promoção da Igualdade Racial da Bahia (Sepromi), em 2017 foram 21 casos de intolerância religiosa, já no ano passado foram 47 casos.
Para Maíra Vida, Conselheira da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) na Bahia, apesar dos casos estarem aumentando, as pessoas estão denunciando mais as situações de intolerância.
"Nós precisamos lançar mão das leis de maneira imperativa para que elas levem a coerção, a punição, mas antes de tudo, a apuração", disse.
Um dos casos mais recentes de intolerância foi um ataque à Pedra de Xangô, monumento sagrado do candomblé localizado no bairro de Cajazeiras 10, em Salvador.
Cem quilos de sal foram jogados na pedra na última sexta-feira (28). O caso foi considerado um ato de intolerância religiosa, já que o sal é um símbolo de purificação, e o fato de ter sido jogado na pedra dá a entender que o local cultuado pelo Candomblé estivesse impuro.
Outro caso que teve bastante repercussão foi a pichação no muro do terreiro Casa de Oxumarê, um dos mais tradicionais de Salvador, fundado no início do século XIX. O terreiro representa não apenas a formação do candomblé no Brasil, mas também, um marco pela luta e resistência de africanos escravizados.
A frase "Jesus é o caminho" foi escrita em outubro do ano passado, no muro branco do templo, que fica na Avenida Vasco da Gama, trecho do bairro da Federação. Após a pichação, grafiteiros e candomblecistas se reuniram em ato artístico contra intolerância, em novembro de 2018.
Fonte: G1