Foto: Divulgação |
O Centro de Artes, Humanidades e Letras (CAHL) foi palco, na quarta-feira (8), de um ato em defesa das ciências sociais e da filosofia no Brasil e pela autonomia universitária. O evento, organizado pelos colegiados bacharelado e licenciatura em Ciências Sociais, contou com uma boa participação de estudantes e professores que se posicionaram contra a retirada de recursos das faculdades de Filosofia e Sociologia.
Representando o colegiado de Serviço Social, a professora Albany Mendonça foi a primeira a falar. A professora recordou que foi a partir da interlocução com as ciências sociais que o serviço social de fato conseguiu se consolidar, ampliando as discussões, e também possível foi romper com o serviço social tradicional e assistemático.
O professor Luís Flávio Godinho, que também estava representando a Associação Brasileira de Ensino de Ciências Sociais (ABECS), lembrou que a perseguição às ciências humanas não é uma novidade, pois a sociologia e filosofia saíram do currículo nacional oito vezes, entre 1890 e 2018. “Entra o governo conservador, tira a filosofia e sociologia do currículo, entra governo progressista, repõe filosofia e sociologia no currículo. É obvio que filosofia e sociologia entram e saem do currículo porque são componentes que permitem elevação de consciência social e criticidade social que são componentes perigosos para a classe dominante, conservadora, elitista e obscurantista. Perseguição política no campo das ciências humanas é a impossibilidade de formarmos seres críticos socialmente, com capacidade de intervenção crítica, de formulação racional e de soluções para a própria existência social tão necessária a todos nós”, defendeu o professor.
O discente Wagner Souza, representante do Centro Acadêmico de Serviço Social), foi categórico ao afirmar que o governo quer tirar ciências sociais e filosofia do projeto de educação porque tais áreas vêm contribuindo com a formação de cabeças pensantes, e que sem essa formação estaríamos alienados, sendo massa de manobra para o governo.
Para o professor Diogo Valença, os ataques a tudo que é democrático, incluindo a universidade, vai se intensificar, porque a agenda moralista do atual governo vai aumentar à medida em que a crise econômica for se acentuando. Em sua visão, com o aumento da insatisfação, inclusive dos setores que votaram em Bolsonaro, a estrutura fascista do Estado brasileiro, que apresenta fortes resquícios da ditadura, será acionada contra tudo que for democrático.
Além do ataque direto às ciências sociais e filosofia, os presentes também se posicionaram contra o corte anunciado pelo governo para as universidades federais, que tem deixado incerto o futuro dessas instituições. Formada em bacharelado em Ciências Sociais pela UFRB, Rosana Vieira fez questão de lembrar a luta que o povo do recôncavo travou para ter uma universidade pública. “Foram feitas mais de 50 audiências públicas no estado da Bahia, principalmente no recôncavo, para dizer ao governo que nós precisávamos dessa universidade, que nós queríamos essa universidade. Que nós, enquanto negros, pobres, mulheres do recôncavo, não tínhamos espaço nas universidades. Quando a gente fala de toda a luta que a gente teve enquanto UFRB, a gente está dizendo quem somos nós. Somos uma UFRB feminina, negra e que agrega todos e todas”, defendeu Rosana.
Nessa mesma linha de raciocínio, o diretor do CAHL, Jorge Cardoso, colocou que a UFRB está presente no recôncavo há mais de 10 anos. Nesse tempo, a infraestrutura do centro piorou muito, o que, para ele, significa que os ataques dos governos à educação são efetivos e têm dado resultado. “Mas ao mesmo tempo em que nossa infraestrutura se precarizou, a gente ampliou o número de estudantes que este centro recebe. Isso significa, portanto, que a gente resiste. E enquanto houver alunos e alunas, docentes, servidores técnico-administrativos dispostos a lutar por esse projeto, o CAHL e a UFRB vão resistir, vão existir”, enfatizou o diretor.
Um dos organizadores do ato, o professor Bruno Durães, afirmou que além dos cortes, um elemento perigoso e problemático é o simbólico, o elemento do discurso, da ideologia. Segundo ele, contra o discurso, a ideologia e uma imagem de que a universidade está fazendo balbúrdia, é preciso agir. “Eu queria deixar esse registro de que na UFRB, no recôncavo, nas ciências sociais, nas ciências humanas e nesse centro vai ter resistência”, conclamou.
O evento contou com representantes da APUR, do Sindicato de Sociólogos da Bahia; do Conselho de Serviço Social; Colegiados de História, Serviço Social, Ciências Sociais (bacharelado, licenciatura e pós-graduação), CRESS, ABECS e estudantes e professores de outros cursos do CAHL. Informações Ascom Apur.