Fotos: Arquivo pessoal Lourival Augusto | Facebook |
Por Lourival Augusto
O prédio da antiga ESCOLAS REUNIDAS CASTRO ALVES, da cidade de MURITIBA-BA, construído pelo Governo do Estado e inaugurado em 06 de março de 1927, foi uma das centenas de escolas idealizadas pelo baiano Anísio Teixeira, que, desde 1924, a convite do então governador Góes Calmon, assumira o cargo de Inspetor Geral de Ensino (cargo equivalente hoje ao de Secretário da Educação Estadual). Anísio Teixeira espalhou esse tipo de prédio escolar por quase toda a Bahia e estas construções, ainda podem ser vistas em várias cidades do nosso estado. Na sua maioria as cidades baianas que receberam esse equipamento educacional – moderno para a época - conservam com carinho essas relíquias arquitetônicas de um passado inovador.
Aqui em Muritiba, o prédio das “ESCOLAS REUNIDAS CASTRO ALVES”, infelizmente, é um dos últimos imóveis históricos e públicos que restaram da nossa memória arquitetônica do séc. passado.
Transformado em biblioteca a partir de março de 2008, o prédio abriga, desde então, a Biblioteca Municipal Profª LEDA NAIR, que representa, na prática, a única biblioteca pública da sede do município. O descaso com o prédio se arrasta há mais de três anos, fechado desde o final da gestão municipal anterior e que vem, de algum tempo, passando por uma “reforma” que, em vez de salvar o prédio, voltando a dar-lhe a sua importância histórica, mantendo e recuperando a sua total originalidade arquitetônica, vai na mesma sequência de descaso histórico dos gestores anteriores.
Parece para alguns administradores públicos da cidade que, neste caso, ali não se encontra um monumento que representa, de verdade, uma fase, um último resquício de boa parte da nossa combalida e tão maltratada memória arquitetônica.
Por essa escola passaram muitos muritibanos e muritibanas que tiveram, nessa formação, uma base educacional invejável que hoje não se vê facilmente no ensino público.
Além da situação do prédio em si, não podemos deixar de citar o estado desesperador do acervo da biblioteca, especialmente dos livros, jornais, DVDs e revistas, durante todo esse período de inatividade funcional, largado pelo chão, sem um mínimo de cuidado, sofrendo a ação quase irreversível das intempéries e da umidade (o telhado sofreu vazamentos e as chuvas castigaram os livros, os móveis, os equipamentos, etc) e agora, durante os consertos, as obras, continuam os livros ali empilhados sem uma proteção adequada e, além da umidade, o material gráfico, normalmente vulnerável, sofre com os agentes naturais de uma obra civil como o pó, a poeira, o cimento, as tintas, etc.
As pessoas desinformadas infelizmente acham que as bibliotecas são coisas do passado e que a Internet supre, atualmente, todas as necessidades culturais e de informações, o que, por enquanto, ainda não é verdade. Ainda está muito longe o abandono total da necessidade da consulta aos livros de papel. Há muitas obras raras e outras até recentes que não são encontradas na rede mundial de computadores. Os e-books ainda não superaram totalmente a leitura nos livros em papel. Uma coisa triste neste acervo desprezado da nossa biblioteca é que, muito do material que lá existe, entre obras raras, antigas ou fora de catálogo, uma grande parte foi doação espontânea de pessoas, voltadas ao sentimento de espalhar a cultura para outros interessados no conhecimento.
Muitas obras que não são mais reeditadas, que não estão mais em catálogo, com certeza, não retornarão facilmente ao acervo da nossa biblioteca, estarão perdidas irremediavelmente. Não entendo como pessoas que buscam ocupar cargos públicos como gestores públicos (pagos com o nosso dinheiro) nem sempre trazem (com as naturais exceções, é claro) o devido olhar sensível, como por exemplo para com um patrimônio cultural como este, que pertence, de acordo com a lei, a todos os munícipes e não a um ou outro gestor que foi eleito pelo povo e que deveria administrar a coisa pública ouvindo e respeitando a voz e o desejo do povo. A pergunta que não quer calar é esta: por que não se vê um olhar sensível dos responsáveis da administração para preservar, além da originalidade histórica do prédio, recolher preventivamente e de forma antecipada os livros e outros materiais da biblioteca, guardá-los, em seguida, em um lugar seguro até o fim dos consertos do prédio? Este recolhimento deve também ser seguido de uma higienização e restauração dessas obras.
Na estrutura arquitetônica do prédio, como vemos em fotos antigas, o prédio trazia quatro salas de aulas, como quatro escolas juntas, daí o título “Escolas Reunidas...”. Cada sala do conjunto arquitetônico tinha uma porta e uma janela externas independentes das demais, que serviam para o acesso às laterais externas do prédio; esse acesso conduzia os alunos para os intervalos das aulas, para as quadras de basquete e ginástica e também para acesso aos banheiros, estes últimos localizados ao fundo do conjunto escolar. Havia também as portas das salas para os lados internos, interligando todas em si e também com a coordenação das escolas.
Percebemos hoje que a partir da implantação (adaptação) do prédio para ser uma biblioteca, algumas alterações graves foram feitas na estrutura do monumento escolar. Grande parte de sua área de esportes e lazer foi confiscada para ser, em seu lugar, construída uma “praça de alimentação e de álcool”. As portas e as janelas laterais do lado esquerdo (visto de frente do prédio) foram retiradas e, os espaços ocupados por estas, foram totalmente fechados com blocos. A outra lateral, a direita (vista pela frente do prédio) permaneceu com as portas e janelas originais, mas esta atual gestão, em vez de consertar a grave agressão anterior à originalidade arquitetônica do conjunto feita em outra gestão, repondo as potras e janelas, gostou da ideia de investir contra a originalidade e resolveu – talvez pensando em reduzir custos -, por sua vez, retirar as portas e janelas dessa lateral do prédio, fechando-as com blocos, numa total falta de sensibilidade para com a nossa memória e a nossa cultura.
Na cabeça dessas pessoas a cultura se resume apenas em promover futebol, festas e c`est fini! Por que então se preocupar com prédios “antigos”? Porque preservar livros que “ninguém lê”? Porque se esforçar em manter tradições e histórias de nossa cidade e de nosso povo? Gerir um município não basta apenas cobrar impostos, limpar bem as ruas e fazer outras coisas mais simples, que são importantes, sem dúvidas, mas para se administrar uma cidade deveria o gestor ter visão de estadista, conduzindo a parte material/econômica e também, com responsabilidade, cuidar com carinho e sabedoria da parte da cultura em seus vários sentidos.
ESSAS FOTOS FORAM TIRADAS EM 2017, 2018 E AGORA EM 2019.
NÃO DEIXEM A NOSSA ANTIGA ESCOLAS REUNIDAS CASTRO ALVES E A BIBLIOTECA MUNICIPAL PROFª LEDA NAIR SEREM APAGADAS DE NOSSAS MEMÓRIAS.
Muritiba, 10 de julho de 2019.
LOURIVAL AUGUSTO