Sem apoio da Caixa, clubes loteiam espaço na camisa e veem receita cair

Foto: Felipe Oliveira
Oito meses após a Caixa Econômica Federal não renovar o contrato de patrocínio com 12 dos 20 times da Série A do Brasileiro, 5 deles continuam sem apoio. A maioria fez novos acordos, mas por valores menores do que era pago pelo banco estatal, que deixou de expor sua marca no futebol, em decisão do governo Jair Bolsonaro (PSL).

O banco diz que a “estratégia atual de marketing é voltada para projetos regionais, com maior impacto social e de incentivo ao desenvolvimento de atletas de base”. Dos clubes conseguiram novos apoiadores, 5 são patrocinados por bancos privados. Outros 2, Bahia e CSA, fecharam acordo com empresas regionais. O clube alagoano conseguiu ainda patrocínio do governo do estado.

Penúltimo colocado do Brasileiro, o time de Maceió, que estava na Série B em 2018, é o único que diz ter aumentado sua receita. A camisa da equipe passou a expor cinco marcas. Entre elas, a do governo do estado, que ofereceu R$ 1,5 milhão pelo espaço no uniforme do clube. O presidente do CSA, Rafael Tenório, é suplente do senador Renan Calheiros (PMDB-AL), pai do governador do estado. “A receita saltou para R$ 4 milhões, a Caixa nos pagava R$ 1,5 milhão.

O governo e os dois [patrocinadores] master [Carajás e Açaí Concept], juntos, me pagam R$ 3 milhões”, afirmou Tenório à reportagem. Lanterna do Brasileiro, o Avaí vive realidade distinta. Segundo o presidente do clube, Francisco José Battistotti, o espaço mais nobre foi oferecido, em vão, por metade do valor arrecadado em 2018. “A Caixa pagou R$ 4 milhões no ano passado, eu baixei pela metade, cheguei a pedir R$ 1,8 milhão, mas não encontrei interessados”, disse.

Na outra ponta da tabela, a agonia é a mesma. Líder com 32 pontos, o Santos fechou apenas acordos pontuais. Hoje, cede o espaço maias nobre da camisa, sem custos, para o Graacc, entidade que auxilia crianças e adolescentes com câncer. Procurada, a diretoria santista não quis comentar a ausência de um patrocínio principal. O Bahia conseguiu, assim como CSA, um acordo com uma empresa local. O clube assinou com a Dular, revendedora de alimentos, e recebe R$ 9,5 milhões por ano, 65% do valor que era pago pela estatal. O contrato prevê ainda participação no lucro de alguns produtos.

 “A diferença [em relação ao valor pago em 2018], vamos resolver com duas novas propriedades [espaços] na camisa”, afirma Lênin Franco, gerente de negócios do Bahia. A estratégia de lotear espaços no uniforme foi replicada por outros clubes, que chegam a expor cinco marcas. “Aumentamos dois espaços menores na parte frontal, além do principal, e três nas costas”, diz Lavor Neto, diretor de marketing do Ceará. “Tem muitos clubes explorando mais propriedades que a gente, mas isso não valoriza a marca e fica até confuso de identificá-la”, admite.

Em julho, o clube cearense acertou com a FinanZero, que opera como correspondente bancário online e negocia empréstimos junto a instituições financeiras. Athletico Paranaense, Cruzeiro e Fortaleza fecharam contrato com o banco Renner, que estampa a marca do seu produto digital Digi+, enquanto o Flamengo passou a exibir a marca da financeira BS2. Já o Atlético-MG retomou a parceira com o BMG. “A Caixa pagava valores acima do mercado”, admite Marcelo Paz, presidente do Fortaleza. “A nossa previsão era de arrecadar R$ 4 milhões.

Vamos atingir R$ 3 milhões”, diz. Clube que tinha o maior contrato com a Caixa, o Flamengo não informa o valor do pago pelo novo patrocinador. “Estamos satisfeitos com os resultados”, disse Maurício Cortela, diretor de marketing da equipe. Em 2018, o clube recebeu R$ 32,6 milhões pelo patrocínio do banco estatal. Plínio Signorini Filho, CEO do Atlético-MG, acredita que, no longo prazo, poderá alcançar com o BMG um valor próximo ao que a estatal pagou ao clube em 2018 -R$ 13 milhões, incluindo premiações. “O modelo atual é ganha-ganha.

O clube e a empresa montaram um banco juntos, o BMG Galo, assim como foi feito no Corinthians”, diz. O banco é próximo ao clube mineiro. Ricardo Guimarães, principal acionista da instituição, presidiu o Atlético-MG de 2001 a 2006. No Brasileiro de 2011, o BMG estava na camisa de 11 times. Nesses acordos, as instituições financeiras oferecem aos clubes participação nos lucros em alguns produtos. A ideia é usar a base de torcedores e de sócios para aumentar a carteira de clientes. Ricardo Rotemberg, vice-presidente comercial e de marketing do Botafogo, diz que foi procurado por 12 bancos digitais, mas não aceitou o modelo proposto.

O clube está sem patrocínio master. José Colagrossi, diretor do Ibope Repucom, vê com cautela esse tipo de parceria. “Os clubes entregam grande exposição aos bancos, o que gera um valor de mídia enorme, entretanto, sem garantia que as metas de receita serão atingidas”, diz. “Num cenário pessimista, é possível que o clube tenha entregue mais de R$ 1 bilhão em mídia sem receita proporcional.”

Fonte: Varela Notícias
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