Foto: Alan Santos |
Infelizmente, a prática de colocar a sujeira para debaixo do tapete e fingir que ela não existe voltou a ser rotina no noticiário político brasileiro. Parte disso é responsabilidade do presidente da República, Jair Bolsonaro (PSL), que prefere atacar o mensageiro ao invés de rebater o conteúdo das notícias.
Na mesma semana, o laranjal do ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, e as manchas de óleo nas praias do Nordeste são dois exemplos completamente distintos que comprovam que tapar o sol com a peneira é prática no cotidiano do Palácio do Planalto.
O ministro do Turismo foi denunciado pelo Ministério Público Eleitoral de Minas Gerais pelo caso das candidaturas laranjas de mulheres pelo PSL no estado.
Membro do primeiro escalão federal, Álvaro Antônio deveria estar sob observação de Bolsonaro desde o início dos indícios de irregularidades. Porém a condição de “homem do PSL” em Minas Gerais o colocou em uma situação tão delicada que pode implodir o governo sem qualquer necessidade. Afinal, o “laranjal” pode respingar na candidatura de Bolsonaro em 2018, mesmo que indiretamente.
Não há fidelidade ou lealdade política que justifique na manutenção dele no cargo.
Ainda assim, nem o presidente da República nem o próprio ministro parecem afeitos à ideia de afastá-lo do posto. Em outros tempos, Fernando Henrique Cardoso, Luiz Inácio Lula da Sila, Dilma Rousseff e até Michel Temer estariam sendo cobrados até a medula para que a demissão viesse a galope. Parece que vivemos em um tempo de tolerância extrema quando se há empatia e intolerância extrema com quem pensa diferente.
Marcelo Álvaro Antônio deveria estar fora do ministério, até mesmo para preservar a imagem já desgastada do Planalto cuja “nova política” aparece apenas no discurso. Agora, com o risco do PSL naufragar, o presidente está em um chove não molha sobre a permanência no partido. Bastante imprevisível o resultado final.
O caso das manchas de óleo no Nordeste é outro empecilho que Bolsonaro prefere esconder ao invés de enfrentar.
Quando questionado sobre o tema, o presidente apontou que, como o petróleo bruto não teve origem no país, não era responsabilidade do Brasil lidar com ele. Errado. A partir do momento que o litoral brasileiro e o ecossistema local passaram a ser atingidos pelo incidente ambiental, o problema é sim do Brasil. Negar isso e transferir a responsabilidade, para quem quer que seja, é acreditar que culpar um inimigo oculto soluciona qualquer obstáculo. Se fosse fácil assim, viveríamos em um outro patamar civilizatório.
De certo, o presidente não surpreende ninguém ao adotar essas estratégias. Foi assim que Bolsonaro construiu sua historiografia e é impossível mudar um “bode velho”. O xis da questão – e o maior desafio – para a população brasileira é criar uma consciência coletiva que permita identificar que combater moinhos de vento não resolve o problema. Apenas posterga a solução, tal qual aquela sujeirinha que escondemos debaixo do tapete. Uma hora ela vai ter que sair dali, sob o risco do tapete não poder mais cobrir os erros do passado.