Foto: Bruno Concha |
A cada dia, dez pessoas, em média, são diagnosticadas com sífilis em Salvador. A doença, que já foi apontada como uma ‘vingança dos americanos contra os europeus’, por ter se espalhado no continente a partir do final do século XV, continua se multiplicando em grau de epidemia mais de 500 anos depois.
No ano passado, o número de novos casos da doença cresceu 40% em Salvador, de acordo com dados da Secretaria Municipal de Saúde (SMS).
Foram 3.625 novos diagnósticos em 2019, contra 2.582 em 2018. De acordo com o Ministério da Saúde, Salvador ocupa a 6ª posição dentre os 100 municípios que respondem por cerca de 60% dos casos de sífilis do país.
Apesar da alta em Salvador, houve redução de 6,7% no número de novos diagnósticos em toda a Bahia.
“A sífilis é uma doença muito antiga e a gente está percebendo que ela é uma doença reemergente. Ela é curável, não é difícil de ser tratada, mas a gente está percebendo, no geral, que para todas as Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs), está havendo uma diminuição das práticas preventivas, há pouca adesão”, explica a chefe do setor de DST/Aids da SMS, Daniela Cardoso.
Em outras palavras, as pessoas, sobretudo o público jovem, não têm usado camisinha.
Segundo Daniela, a doença tem fácil contágio. Se, por exemplo, existe uma chance de que a pessoa contraia o HIV durante o sexo anal sem camisinha, essa chance se multiplica por três para a sífilis. “Esse aumento no número de casos não é só na Bahia, nem em Salvador. Em 2019, em todo o Brasil, o aumento foi de mais de 28%.
Em fevereiro, quando apresentou os dados, o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, falou que, se a gente não tiver cuidado, a epidemia de sífilis vai passar a de Aids”, afirma Daniela.
De acordo com especialistas, há outras explicações possíveis para a alta no número de casos diagnosticados. Além da falta de prevenção, com o uso da camisinha, é grande o abandono do tratamento, embora ele seja simples, acessível, rápido e gratuito – está disponível em toda a rede pública de saúde.
Outra explicação pode estar no fato de que, entre 2016 e 2017, o Brasil enfrentou uma falta de penicilina benzatina – ou Benzetacil, medicamento de referência utilizado no tratamento. Não se pode deixar de lado, também, o aumento no número de testes feitos, o que também implica em mais diagnósticos.
Só no Carnaval, a Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (Sesab) diagnosticou 17 novos casos de sífilis, enquanto a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) fez 42 diagnósticos durante a folia.
A boa notícia é que, tanto na Bahia quanto na capital, o número de casos em gestantes caiu em 2019 com relação a 2018: em Salvador, a queda foi de 12,3% e na Bahia, de 15,4%.
Já os casos de sífilis congênita – que é passada da mãe para o bebê – sofreram queda de 39,7% em Salvador no ano passado. Nesta terça-feira (10), o Unicef e a prefeitura da capital lançaram, juntos, uma campanha pela prevenção e tratamento.
A meta do Ministério da Saúde é que a taxa de sífilis congênita não ultrapasse 9 casos para cada 100 mil. Mesmo com a queda no número de casos, segundo a SMS, a taxa de Salvador ainda é alta: 14 casos para cada 100 mil.