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O Brasil é um dos países que menos realiza testes para covid-19, a doença causada pelo novo coronavírus, segundo uma comparação internacional feita pela BBC News Brasil a partir de dados oficiais compilados pela Universidade de Oxford, no Reino Unido.
Até o dia 20 de abril, de acordo com o Ministério da Saúde, foram realizados 132.467 testes específicos para covid-19. Outros 56.613 estão em análise.
Os números não incluem testes realizados em hospitais e clínicas particulares, apenas na rede pública de saúde.
“O Ministério da Saúde informa que, segundo dados do Gerenciador de Ambiental Laboratorial (GAL), até 20 de abril, 189.080 exames do painel viral (vírus respiratórios diversos) foram realizados nos Laboratórios Centrais de Saúde Pública (LACEN) do país.
Destes, 132.467 foram específicos para covid-19 e outros 56.613 estão em análise”, informou o órgão em nota à BBC News Brasil.
De acordo com a pasta, testes “em análise” são exames que “estão sendo processados nos laboratórios e que ainda não tiveram diagnóstico concluído”.
Isso significa que, atualmente, a proporção de testes por cada 1 mil habitantes no Brasil, considerando uma população de 210 milhões de pessoas, é de 0,63 (ou 63 por cada 100 mil habitantes).
Essa taxa é inferior à de muitos países do mundo, inclusive latino-americanos, como Cuba (2,65), Chile (6,43), Paraguai (0,83), Peru (4,44), Argentina (0,76) e Equador (1,15).
Também é muito mais baixa do que a de nações desenvolvidas, como Alemanha (25,11) e Itália (23,64), e dos Estados Unidos (12,08), o novo epicentro da pandemia, segundo a plataforma Our World In Data, da Universidade de Oxford, no Reino Unido, que compila dados oficiais de mais de 70 países e territórios.
Até o momento da publicação desta reportagem, o Brasil ainda não havia sido listado porque o Ministério de Saúde brasileiro “não divulga atualizações regulares sobre testes”, disse um dos responsáveis pela coleta dos dados à BBC News Brasil.
Mas se fosse incluído no ranking, o Brasil estaria na 60ª posição entre 75 países que realizaram testes para covid-19 até 20 de abril, à frente somente da Tailândia, Filipinas, Paquistão, Marrocos, Bolívia, Índia, Senegal, México, Uganda, Nepal, Quênia, Indonésia, Bangladesh, Mianmar, Etiópia e Nigéria, respectivamente.
Lideram o ranking Islândia (127,58), Luxemburgo, Bahrein, Estônia e Israel.
Segundo a Our World In Data, “nenhum país conhece o verdadeiro número de casos de pessoas infectadas com covid-19. Tudo o que sabemos é o status da infecção daqueles que foram testados”.
“O número total de pessoas que testaram positivo – o número de casos confirmados – não é o número de pessoas que foram infectadas. O número real de pessoas infectadas com covid-19 é muito maior.”
De acordo com a plataforma, mais testes significam “dados mais confiáveis sobre casos confirmados, por dois motivos”.
“Em primeiro lugar, um maior número de testes nos fornece uma ‘amostra’ maior de pessoas das quais conhecemos o status de infecção. Se todo mundo fosse testado, saberíamos o número real de pessoas que estão infectadas.”
“Em segundo lugar, pode ser que os países com alta capacidade de teste não precisem racionar tanto os testes.
Onde a capacidade de testes é baixa, os testes podem ser reservados (racionados) para grupos de alto risco. Esse racionamento é uma das razões pelas quais as pessoas testadas não são representativas da população em geral.”
“Como tal, onde a cobertura de testes é maior, a amostra de pessoas testadas pode fornecer uma deia menos tendenciosa da verdadeira prevalência do vírus.”.
Além de determinar a real extensão do contágio, especialistas acrescentam que, munidos dessas informações, governos podem formular políticas públicas mais apropriadas, isolando doentes ou grupos mais vulneráveis, de forma a evitar a propagação da doença.
Na prática, dizem eles, autoridades sanitárias saberiam quando implementar ou relaxar medidas de isolamento social, por exemplo.
“Sem saber a real dimensão da epidemia, um governo pode agir atrasado ou adiantar medidas drásticas sem que sejas necessárias”, explicou o virologista Anderson Brito, do departamento de epidemiologia da Escola de Saúde Pública da Universidade de Yale, nos Estados Unidos, em entrevista recente à BBC News Brasil.
Fonte: Voz da Bahia