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Em polêmico comercial sobre o Enem 2020 liberado pelo MEC recentemente, o Ministério da Educação deixou claro que “a vida não pode parar”, fazendo referência à pandemia de coronavírus e à aplicação do Exame Nacional do Ensino Médio, até então confirmado para os dias 1º e 8 de novembro.
Neste ano, o governo ainda anunciou uma novidade: o Enem Digital, agendado para acontecer nos dias 22 e 29 de novembro. A dinâmica é a mesma: o candidato precisa pagar a taxa de inscrição de R$ 85 e optar por realizar a prova online ao invés da impressa e presencial.
O fato foi celebrado pelo MEC como se fosse uma conquista da qual se orgulhar, quando, na verdade, ela não condiz com a realidade do Brasil – assim como o ensino à distância.
Um levantamento realizado pela Abed (Associação Brasileira de Educação a Distância) entre 2017 e 2018 mostra que as matrículas no EAD cresceram 17% no país.
Nos últimos dois meses, esse número sofreu um “boom”, já que o surto de COVID-19 levou ao distanciamento social que levou ao fechamento temporário de escolas e universidades que levou ao ensino à distância. Se na teoria imaginamos um mundo em que todos estão seguros em seus lares estudando, na prática observamos alunos, professores e pais tendo que se reinventar para conseguir se adaptar à nova rotina. Apesar das dores de cabeça, esses ainda são privilegiados. 43% dos estudantes brasileiros matriculados no sistema EAD vivem na região Sudeste.
Quase a metade de um índice que mostra como o Brasil é desigual social, cultural e economicamente.
Segundo a Abed, as famílias que vivem em regiões rurais são as mais prejudicadas por esse cenário, sendo a região Norte a mais afetada pela falta de estrutura. Um em cada quatro brasileiros não tem acesso à internet, ferramenta indispensável no EAD. De acordo com dados liberados pelo IBGE no último dia 29, coletados pelo Pnad Contínua TIC, 46 milhões de brasileiros não possuem internet em suas casas.
O número de residências com acesso tem crescido um pouco a cada ano, não dá pra negar, mas das 74,7% das pessoas com internet, 53,5% se encontram em áreas urbanas e 20,6% em áreas rurais. Dois são os principais motivos: (1) o serviço de internet é considerado caro e (2) os equipamentos para o acesso a ele, como celulares e notebooks, também fogem do orçamento.
Se para muitos, apesar da gritante desigualdade, a internet é uma opção, mesmo que distante, para outros ela não chega nem a ser uma possibilidade. 4,5% dos brasileiros moram em regiões do país onde o serviço de internet não está disponível. A região Norte é, mais uma vez, a mais afetada por esse cenário. Curiosamente, ou não, a região Norte foi a primeira a ver seu sistema de saúde colapsar diante da pandemia de coronavírus. A perspectiva com relação à internet é apenas uma parte da falta de estrutura de certas localidades brasileiras – quanto mais diante do Sudeste, e de São Paulo, mais complicado fica.
Fonte: Capricho