Foto: Reprodução |
Por Silvio Soglia*
Parabéns UFRB, 15 anos de trajetória de ensino superior público na Bahia.
Amanhã, 29 de julho, junto com o aniversário de emancipação política de Cruz das Almas, a Universidade Federal do Recôncavo da Bahia completa 15 anos de criação. Trago aqui uma síntese dessa história, no contexto do ensino universitário no Brasil.
Desde seu surgimento, o ensino superior no Brasil sempre foi marcado por um modelo colonialista, necessário à formação das elites eclesiásticas, militares ou da aristocracia agrária. Os cursos em escolas e institutos isolados predominaram no Brasil até o início do século XX, quando foi implantada a primeira instituição universitária em 1920.
Nas lutas pela independência e durante os governos imperiais vários foram os pedidos de criação de universidades no Brasil, todas negadas pelo governo ou pelo parlamento. Destaco aqui o manifesto do Senado da Câmara da Vila de Nossa Senhora da Purificação e Santo Amaro, escrito na Ata da Vereação de 14 de junho de 1822. Em tal documento, dirigido à Junta do Governo da Província da Bahia, o Recôncavo reivindica pela primeira vez a criação de uma universidade.
Com o advento da república mantém-se a concepção de ensino superior utilitário de caráter profissional, esquecendo-se de sua função formadora da cultura nacional e da cultura científica, tão defendida pelo agora patrono da Educação da Bahia, Anísio Teixeira.
A partir de 2003 implanta-se em nosso país uma política de ampliação ao acesso e permanência no ensino superior, criando programas nacionais, consubstanciados no Plano Nacional de Educação-PNE, que resultaram na expansão e interiorização do sistema público brasileiro. Esta política foi um passo gigantesco rumo a inclusão das camadas populares na educação superior.
Foi nessa conjuntura que o Recôncavo da Bahia se levantou numa grande campanha em prol da Universidade Federal do Recôncavo, pois no caso da Bahia, existia um déficit de oferta de vagas na rede federal, em comparação a outros estados da federação. Assim em 29 de julho de 2005 o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou a Lei 11.151 que criou a UFRB, com sede e foro na cidade de Cruz das Almas.
A criação da UFRB surge assim, com o desafio de superação da lógica elitista e mercadológica de formação de profissionais em áreas restritas, levando em consideração a realidade territorial. Concebida em um modelo multicampi, tem uma atuação em quase todas as áreas do conhecimento que vai das Ciências Agrárias, da Saúde, das Artes e Cultura, das Humanidades e das Exatas, com a constituição de grupos de pesquisa e extensão vinculados ao ensino da graduação e da pós-graduação.
A conquista da UFRB, obviamente, não significou de imediato o aniquilamento das desigualdades e das injustiças para o território do Recôncavo e seu entorno. As sociedades globais cada vez mais convivem com as desigualdades sociais e a falta de oportunidades para grandes contingentes populacionais, especialmente para a juventude.
No caso do Brasil, que ainda se ressente das práticas colonialistas do passado e atuais, e do atraso de suas elites, trabalhar com afinco pela educação para que as novas gerações tenham acesso ao ensino superior qualificado, não é suficiente.
Contudo, acredito que a UFRB se configura como uma grande conquista dos povos do Recôncavo da Bahia e dos Territórios do seu entorno, para contribuir com a formação científica, técnica, política, cultural e social da nossa gente com benefícios para o conjunto da sociedade, ainda marcada pela exclusão. Associa-se a estes propósitos, seu papel de promotora da paz, defensora dos direitos sociais, do respeito à vida e do meio ambiente, e o combate a qualquer tipo de discriminação e ameaça às liberdades.
Compreendendo ainda a sua incompletude, e seus desafios futuros, quero parabenizar essa extraordinária instituição, a todos e todas que a edificam, e a dignificam diariamente, com o orgulho de também a constituí-la e fazer parte dessa trajetória.
*Silvio Luiz Soglia, Ex-Reitor da UFRB período 2015-2019.