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Em 2012, ele tinha acabado de iniciar o terceiro ano do ensino médio na Escola Parque, um prestigiado colégio particular na Gávea, Zona Sul do Rio, graças a uma bolsa de estudos. Assim como o eu lírico de Seu Jorge, Wellington morava em São Gonçalo e acordava às 4h da manhã para conseguir chegar à aula às 7h. Em turno integral, ele só voltava para casa por volta das 20h.
Sobrava pouco tempo para estudar, em um cenário de defasagem com relação aos colegas, pela fragilidade de sua formação anterior no ensino público. O desempenho no primeiro bimestre foi preocupante, com notas vermelhas em seis disciplinas. A situação comoveu uma professora do colégio, que trouxe uma solução inesperada.
Ela sugeriu que o adolescente passasse a dormir nas dependências de uma escola pública no bairro do Leblon onde sua irmã lecionava, para evitar a perda de tempo com os deslocamentos. Após o constrangimento inicial, Vitorino tentou ver a situação por outro prisma. "A gente sempre tem que buscar formas de se motivar. A minha foi pensar que aquilo era estilo 'Uma Noite no Museu [filme de 2006]'. Eu gostava muito daquele filme, e iria dormir cercado de livros", conta.
Somente as irmãs professoras, o estudante e sua família sabiam do plano inicialmente. Ele se misturava ao movimento de alunos perto das 22h e dormia em um sofá apertado na sala dos professores, antes de conseguir um colchão inflável. Conforme funcionários e a própria diretora da escola tomaram conhecimento da situação, Vitorino se ofereceu para substituir professores faltantes, como um monitor voluntário.
"Das 7h às 17h, eu convivia com filhos de famosos como Caetano Veloso — sou muito amigo do Tom e toda a família —, Malu Mader e Pedro Bial. De 17h às 22h, eu vivia a realidade do Brasil. Quem estuda em uma escola pública do Leblon à noite é gente das comunidades, que trabalha o dia inteiro e tenta conseguir, pelo menos, um diploma do Ensino Médio", comenta Vitorino, que dormiu na escola por oito meses.
Fonte: G1