Daniela Lacerda, CEO da rede Corujão 24h, com sede em Feira de Santana (BA) Imagem: Taila Silva/Divulgação |
“Fazer a empresa se destacar no meio desses tubarões do varejo em tão pouco tempo, operando no interior da Bahia, sobre a gestão de uma mulher, faz realmente me sentir orgulhosa da minha trajetória”, declarou Daniela, 30.
A rede tem hoje sete supermercados na cidade.
Trocou presentes por produtos para revender
Ela conta que seu pai, Anselmo Oliveira de Almeida, sempre levava os filhos [ela e o irmão] a uma feira de comércio popular da cidade para escolher presentes para o Dia das Crianças.
“Em 2003, pedi que, em vez de presentes, ele comprasse doces, brinquedos e cartelas de adesivos para eu revender. Montava uma barraquinha em frente à minha casa nos finais de semana. Com o dinheiro das vendas, comprava mais produtos e, em três meses, faturei quase R$ 1.000”, afirmou.
Daniela diz que o pai, que era vendedor autônomo, não queria que ela fosse comerciante.
“Como todo comerciante, nos altos e baixos, ele morria de medo que eu seguisse o mesmo caminho, que era árduo e não passava segurança financeira para a família. Tudo que ele mais queria na época era que eu entrasse na faculdade, tivesse um diploma e seguisse a vida como concursada”, declarou.
Vendia acessórios na faculdade e teve loja de roupa
No primeiro ano da faculdade de direito, em 2010, Daniela começou a revender acessórios femininos e semijoias a alunos e professores. Investiu R$ 500 na compra das peças e, em seis meses, lucrou R$ 2.000. "Compreendi ali que eu tinha talento nato para empreender.
No mesmo ano, seu pai construiu um ponto comercial na frente da casa, e ela alugou o espaço para montar uma loja de roupas femininas. Importava vestidos, comprando no site AliExpress, e revendia na loja e via Instagram.
“Com o dólar em baixa na época, eu comprava, por exemplo, vestido por R$ 50 e o vendia por R$ 1.000”, disse ela, que investiu R$ 15 mil no negócio. Em um ano, o retorno foi de R$ 100 mil. Ficou com a loja por quatro anos.
Transformou o atacado de bebidas em varejo
O namorado Victor Leonardo (hoje marido) viu a sua veia comercial e chamou Daniela para o negócio (um atacado de bebidas chamado Corujão 24h), propondo que ela montasse o varejo.
“O início do Corujão foi marcado somente com a venda de bebidas, mas ao longo do tempo começamos a observar a busca dos clientes por outros produtos. Tudo que acompanhava a cervejinha gelada era procurado: carne para o churrasco, espetos, descartáveis”, contou. Em 2015, Daniela ampliou o portfólio de produtos.
Corujão 24h vira supermercado em 2018
No terceiro ano do varejo de bebidas, o casal recebeu uma proposta do cliente Mário Trindade (que virou sócio) de transformar o negócio em um supermercado.
“Era uma boa oportunidade. Nos alimentos, as margens de lucro são mais positivas [de 25% a 30%] que as das bebidas [de 5% a 10%]. Enxerguei ali mais chances de lucro”, disse.
O primeiro supermercado foi aberto em 2018, com investimento inicial de R$ 500 mil. Em 2020, a rede Corujão 24h faturou R$ 285 milhões. O lucro não foi revelado.
Além de Daniela e o marido, também são sócios no negócio Mário Trindade e Vinícius Rocha. Em 2022, a rede deve inaugurar sua primeira franquia: em Salvador.
Empresa deve focar no público e trazer inovações
Para Isailton Reis, gerente regional do Sebrae em Feira de Santana, a empreendedora Daniela Lacerda “não teve medo de correr risco” com os diversos negócios (mesmo os informais) que teve.
Reis disse que ela soube fazer uma boa avaliação do mercado ao abrir o supermercado Corujão 24h na cidade.
“Feira de Santana é bastante comercial, com um entroncamento muito grande de galpões distribuidores de empresas. Daniela soube aproveitar essa proximidade com os fornecedores para criar o seu negócio.”
O gerente diz, no entanto, que a empresa deve ficar atenta para acompanhar e gerir a forma como vem crescendo no mercado.
“O principal diferencial da rede era o foco na venda de bebidas e petiscos para churrasco, o que alavancou a empresa. Agora, ela precisa monitorar seu crescimento, mantendo foco no público-alvo e buscando inovações no mercado e formas de se diferenciar da concorrência dos grandes grupos de varejo já instalados na cidade”, afirmou.
Fonte: UOL Economia