Foto: Divulgação | Vinícius Castro |
Aberto em março de 2020, o edital foi elaborado pela Prince Claus Fund, uma ONG holandesa que apoia o setor artístico e cultural em países onde a cultura está sob pressão. Em conjunto com a Gerda Henkel Stifung, da Alemanha, as sociedades escolheram dez instituições inscritas.
Fundada em 1878 pelo maestro Eduardo Mendes Franco, a Sociedade Lítero Musical Minerva Cachoeirana foi uma delas. Em fevereiro deste ano foi iniciado o projeto Preservar e Compartilhar a Memória Musical do Acervo da Filarmônica Minerva Cachoeirana.
“Existia dentro dele (edital) uma linha de apoio voltada a acervos documentais, inclusive em situação de risco, e tinha o acervo de partituras da Minerva muito grande que precisava dessa preservação preventiva, com partituras antigas, e é um documentação que precisa ser preservada”, diz um dos coordenadores do projeto, Roberaldo Galiza.
A quantia recebida é utilizada para conservação preventiva e documentação museológica da Filarmônica. Na primeira etapa do processo foram realizados treinamentos para a higienização correta dos documentos. Os três coordenadores do projeto, Menderson Bulcão, Roberaldo Galiza e Sheyla Monteiro optaram por convidar músicos da própria instituição para monitorar.
Instruídos pela museóloga Aline Gomes, contratada pela Minerva através da contemplação do edital, os jovens aprenderam sobre a higienização mecânica. Para limpar as partituras são usados pó de borracha com um sachê de gaze e algodão ou a trincha.
“É como se esse sachê fosse uma trouxinha de algodão. A borracha ralada é espalhada em cima do documento, e vão passando lentamente o sachê por cima, limpando as áreas da partitura. Já a trincha, que é tipo um pincel mais macio, é usada em documentos mais antigos e mais difíceis de limpar, que precisam de mais cuidado para não danificar”, explica Aline, que é técnica em preservação.
Os músicos foram ensinados com cópias e, após atingirem a qualidade da técnica, deram início aos passos do processo em ordem. Com o diagnóstico do estado dos documentos, as primeiras partituras foram higienizadas em março. Até agora foram limpas e acondicionadas 8.200, o que representa 92% do total. A digitalização, última etapa, será feita quando todas estiverem higienizadas.
Herança mundial
Para o trompetista Samuel Caick, 19, fazer parte da preservação proposta pelo projeto modificou a forma como ele enxerga as partituras. “Elas são o cérebro de tudo, não servem apenas para que eu saiba o que tocar, mas também é como um documento que faz parte da história da instituição, da cidade”, acredita. Junto com Samuel, estão como monitores o percussionista Silas Daniel, 16, e o flautista Heggo Ian, 17.
De acordo com Roberaldo, esta é uma oportunidade importante para aprenderem sobre a educação patrimonial. “A ideia é que eles sejam multiplicadores da relevância que é preservar esses documentos, que contam histórias de épocas da comunidade de Cachoeira, da Bahia, do Brasil e também do mundo”, afirma.
Dentre as peças musicais mais antigas do acervo, entre os séculos XIX e XX, existem arranjos criados de obras originais de países como Itália, França e Estados Unidos. Outra atividade do projeto será a criação de um site institucional para difundir o acervo da Minerva Cachoeirana, que também conta com composições de bandas militares e inéditas.
A previsão para concluir todas as etapas do trabalho é até dezembro deste ano. Para os colaboradores, a Filarmônica faz parte do cotidiano do interior. A partir da música, a Sociedade Lítero Musical Minerva Cachoeirana participa de concertos, cerimônias religiosas e cívicas em todo o estado baiano, como os cortejos da Independência do Brasil no dois de julho em Salvador e em 25 de junho, na própria Cachoeira.
Além disso, a instituição mantém a tradição de formar músicos pela Escola de Música Alcides dos Santos, que oferece gratuitamente aulas teóricas e práticas para dezenas de adolescentes e jovens.
Fonte: A Tarde