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Embora os menores normalmente não tenham casos graves da doença, eles podem ser um importante vetor de transmissão do vírus por ainda não terem a cobertura vacinal, afirma Marcos Boulos, professor de infectologia da Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo).
"Mesmo que as crianças não tenham infecções graves, elas continuam propagando o vírus. Então, a vacinação é importante", diz Boulos.
O professor explica que é necessário ter no mínimo 80% da população vacinada para barrar a circulação do vírus. "Quanto mais pessoas vacinadas, sejam adultos ou crianças, isso repercute na imunidade da população."
A preocupação com a transmissibilidade do coronavírus aumenta com o surgimento de variantes, como a ômicron. "É necessário [a vacinação] porque as novas variantes estão se disseminando com uma maior intensidade nas populações não vacinadas, inclusive em crianças", afirma Renato Grinbaum, membro da SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia).
Grinbaum também ressalta que, desde a identificação da primeira variante, o coronavírus desenvolveu nos infectados quadros cada vez mais casos graves, por isso, a proporção de crianças doentes cresceu em relação ao cenário visto com a cepa original do vírus.
Além disso, por ainda não estarem vacinadas, crianças são mais suscetíveis a serem infectadas em comparação a grupos de outras faixas etárias que já tomaram os imunizantes.
O produto da Pfizer já foi recomendado para crianças por outras agências internacionais, como o FDA (agência americana que regulamenta drogas e produtos alimentícios no país), a Agência Europeia e a Agência Canadense). Nos Estados Unidos, a autorização ocorreu em novembro.
Jamal Suleiman, infectologista do Hospital Emílio Ribas, afirma que o imunizante para essa faixa etária é seguro e necessário. "É uma vacina extremamente segura, com ocorrência de eventos adversos de somente 0,05% [em crianças a partir de cinco anos]", diz.
Outras iniciativas de ampliar os imunizantes para crianças e adolescentes vêm sendo feitas nos últimos meses. O Instituto Butantã, por exemplo, enviou um primeiro pedido de autorização da CoronaVac para pessoas de 3 a 17 anos em julho, mas foi negado por causa da limitação de dados dos estudos apresentados naquele momento.
Agora, foi enviado um segundo pedido com novos estudos para a agência avaliar no prazo máximo de 30 dias.
"É importante termos mais de uma vacina [para crianças]. A plataforma de vacinas inativadas [utilizada na CoronaVac] é bastante conhecida na pediatria, mas é preciso ver a qualidade dos estudos que foram apresentados para a Anvisa", afirma Renato Kfouri, presidente do departamento de imunizações da SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria).
Mesmo que seja importante a aplicação da vacina para os mais jovens, Boulos afirma que ainda deveria ser uma prioridade buscar aqueles dos grupos de risco que ainda não se vacinaram ou que tomaram somente uma dose.
"Eu acho que tem que tentar de qualquer jeito buscar as pessoas [não vacinadas] para melhorar a imunidade da população", afirma.
A aplicação da vacina nas crianças, no entanto, não será iniciada imediatamente porque as doses para a faixa etária são específicas e ainda não estão no Brasil.
A previsão é imunizar 70 milhões de crianças.
Fonte: BN