Vista aérea da Praia do Forte-BA | Foto: Blog AbreuTur |
O pesquisador e doutor em Ciências Sociais Antonio Mateus Soares (AMS), além de Sociólogo e Urbanista, especialista em Gestão Pública, mestre em Arquitetura e Urbanismo, e Doutor em Ciência Sociais, com foco em Segurança Pública e Violência, realiza estudos pontuais e projetos desde 2003 no Litoral Norte, a primeira experiência na Zona Turística dos Coqueiros, foi marcada pelo Projeto Movimento Sociedade e Ambiente (2003-2005), financiada pela Petrobras-BR, executado pela Fundação OndaAzul, em seguida (2006-2008) o Dr. Antonio Mateus Soares (AMS), prestou assessoria às construtoras responsáveis pela instalação de equipamentos hoteleiros em Praia do Forte, a exemplo do IberoStar Hotels & Resorts. A experiência técnica e metodológica do pesquisador soma-se ao background e vivência do sociólogo Danilo Henrique, que além de morador da vila, realiza pesquisas no município e conhece muito o território de Mata de São João, tanto a área urbana, como rural, assim como toda a faixa litorânea.
AMS destaca que a discussão sobre os impactos econômicos, culturais, naturais e sociais do turismo em qualquer lugar do mundo, sempre divide opiniões e gera polêmicas, entre os super beneficiados pelo turismo, os medianamente beneficiados e os não beneficiados. Sendo recorrente conflitos de narrativas entre empresários, não empresários, trabalhadores e/ou empregados da atividade turística. AMS acrescenta “que o turismo é uma moeda de dois lados” às avaliações sobre a atividade turística em Praia do Forte, especificamente, movimenta tanto a economia do município de Mata de São João, como gera dividendos para o Estado da Bahia. Para o município a atividade turística contribui diretamente na geração de receitas através de impostos, emprego e renda, ampliação das vagas de trabalhos nos mais diversos setores econômicos: construção civil, comércio, serviços, produção artesanal e até mesmo na agricultura.
Para AMS a atividade turística de Praia do Forte dinamiza uma cadeia produtiva complexa e rentável, entretanto o que muitos empresários, comerciantes e agentes do setor turístico não concordam é que “tal atividade reproduz vícios da lógica capitalista de concentração de renda e ampliação das desigualdades sociais, com a exclusão social-inclusiva, àquela que faz o indivíduo se sentir contemplado com o discurso da atividade desenvolvida, mas efetivamente é excluído pela transitoriedade e interação superficial pelas bordas da atividade, recebendo baixos salários, não obtendo o reconhecimento devido e não tendo segurança jurídica no desempenho de sua função”.
O relatório da pesquisa realizada, expressa que o turismo do entretenimento que gera emprego, renda e qualidade de vida para uma parcela da população, sobretudo a “outsiders”, a “de fora”, a “estrangeira”, também pode estimular e/ou contribuir na degradação ambiental da fauna e da flora, com a expansão de condomínios e complexos hoteleiros de luxo. O reverso da fruição do turismo de luxo e para poucos, também pode gerar violência, criminalidade e exploração sexual. O Dr. Antonio Mateus Soares afirma “que na dinâmica do turismo da alta lucratividade controlada por poucas pessoas, há o surgimento do ´turismo predatório”, que tem efeitos adversos na vida da população genuína das áreas exploradas”.
Tanto o sociólogo AMS, como o pesquisador Danilo Henrique são defensores do turismo, mas a pesquisa realizada demonstra que tal atividade pode gerar maior sustentabilidade social para a população se o município tem um controle mais otimizado das atividades, e isso pode acontecer com maior eficácia, quando o poder público começar a realizar levantamentos mais detalhados e sistematizados da atividade turística no município, buscando conhecer melhor o perfil dos turistas que visitam cada área, o padrão de consumo, a projeção do gasto financeiro de cada visitante, quem obtém os maiores lucros com essa atividade, quanto realmente fica no município e como esse dinheiro é gasto. A pesquisa defende que além da necessidade do uso de experiências da economia criativa é necessário a utilização de tecnologia social e metodologia específica na construção de planejamentos turísticos articulados com políticas públicas inclusivas.
A profissionalização da atividade turística é para além do oferecimento de programas, cursos e capacitações técnicas para formação de mão de obra para trabalhar em condomínios, complexos hoteleiros, comércios, serviços e produção artesanal. A atividade turística deve ser amplamente monitorada pelo poder público, que em conjunto com a população e a sociedade civil organizada, devem criar metodologias baseadas na economia criativa, uso de tecnologias sociais, transparência no exercício da atividade turística e inclusão social.
Os pesquisadores realizam há um tempo um conjunto de ações voluntárias através de palestras e reuniões, tanto em Praia do Forte, como em Açu da Torre e na Sede de Mata de São João, atividades realizadas em anos anteriores a pandemia. Segundo Antonio Mateus, além dos relatórios de um conjunto de atividades realizadas, foram realizados cruzamentos de dados estatísticos oficias do Ministério do Turismo, com os dados de pesquisa de campo realizada no município de Mata de São João, tais informações foram sistematizadas e interpretadas sob a luz de abordagens teóricas articuladas com a “economia do turismo”. No relatório produzido, fica claro que é possível se realizar atividades turísticas rentáveis com sustentabilidade social e estratégias de combate a violência e criminalidade na região.
Na conversa que tivemos, AMS esclareceu que os estudos realizados recentemente já se encontram sistematizados em um relatório assinado pelo pesquisador e pelo sociólogo Danilo Henrique, podendo ser um documento público de consulta e reflexão sobre o fenômeno do turismo em Mata de São João, o Dr. Antonio Mateus ainda sugere que tal relatório possa ser utilizado como referência pelo poder público na construção de programas coletivos que diminua a desigualdade de acesso da população Matense (nascidos em Mata de São João) e Nativos (moradores antigos de Praia do Forte), às benesses econômicas do turismo.
Pesquisadores Leo Caetano, Dr. Antonio Mateus Soares, Danilo Henrique da Silva |