Foto: Reprodução |
Enquanto o Facebook foi citado por um terço dos entrevistados como sua principal rede usada para se informar sobre política, a plataforma é seguida pelo Instagram (16%, que é do mesmo grupo, a Meta), por YouTube (12%) e WhatsApp (10%, também da Meta), empatados no limite da margem de erro. O Twitter, amplamente usado por políticos e por meios de comunicação, acumula somente 3% das citações, ligeiramente à frente de TikTok e Telegram. No cenário geral, 22% disseram ter nas redes sociais seu principal meio de informação sobre política — atrás apenas do noticiário de televisão, que acumula 38% das preferências.
A quantidade de pessoas que citou ter preferência por consumir informações sobre política em alguma das redes sociais apresentadas soma 76% dos entrevistados (a pergunta de múltipla escolha só permitia uma resposta). Dentre estes entrevistados, 63% citaram ainda ter ao menos uma segunda rede preferida para este fim. Enquanto isso, 21% disseram não ter redes sociais ou não usá-las de modo algum para se informar sobre política.Informação sobre política nas redes vai muito além de qual delas é mais usada
Algumas redes que são frequentemente utilizadas no debate público por cidadãos e políticos, como Twitter e Telegram, foram pouco citadas pelos entrevistados como sendo de sua preferência para consumir informações sobre política. No entanto, especialistas indicam que esta relação é muito mais complexa do que uma escolha de A ou B, e que é mais importante entender como a internet funciona de forma dinâmica, capaz de criar formas muito difusas de influência.
O caso do Twitter é um exemplo que chama a atenção. Mesmo que citado por somente 3% como sua principal rede usada para consumir política, é usado por toda gama de políticos para se comunicar com eleitores e cidadãos de forma geral. Segundo especialistas do tema, é considerado inclusive uma rede com alta capacidade de “agendamento” (ou seja, potencial de moldar coberturas jornalísticas).
— As plataformas têm diferentes funções e diferentes audiências. O Twitter tem outras funções importantes. Uma delas é a capacidade de agendamento da imprensa. Outra é a possibilidade de entrar em discussão direta com atores políticos, gerando assim uma visibilidade que não é possível em outras redes sociais — explica Marisa von Bülow, professora do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília (UnB), sobre as diferentes possibilidades de interação dentro da rede. — No caso do Twitter, pesa bastante o fato de terem forte presença ali os políticos, jornalistas e acadêmicos, com os quais é possível pelo menos tentar interagir diretamente.
Segundo a especialista, outro exemplo da importância de se olhar para esse dinâmico ecossistema de redes (para além de plataforma A ou B) inclui o fato de que informações fluem facilmente de uma rede para outras. Inclusive, em grande parte das vezes isto já vem sendo feito de forma coordenada, e não apenas espontânea.
— Por exemplo, muita gente ficou sabendo do tuíte da (cantora) Anitta de apoio à candidatura do ex-presidente Lula não pelo Twitter (justamente onde ela tornou público o anúncio), mas sim porque recebeu a mensagem no seu WhatsApp ou no grupo do Telegram — exemplifica von Bülow. — Ou, ainda, vemos vídeos sendo produzidos no YouTube que então são disseminados massivamente para grupos no WhatsApp e no Telegram.
Como as formas de consumir política vão mudando rapidamente, novas táticas e estratégias também vão surgindo ao longo do caminho, buscando alcançar engajamento com audiências estratégicas. Por exemplo, depois de a pré-campanha petista ter sido pressionada nas redes para competir com a equipe do presidente Jair Bolsonaro (PL), o ex-presidente Lula criou sua conta no TikTok recentemente. Assim, com um plano para atrair um nicho específico mais jovem, que consome mais vídeos curtos e dinâmicos, mesmo que a rede seja pouco citada na pesquisa como fonte de informação política.
— Uma pesquisa tira uma foto em determinado momento — resume a professora da UnB. — As campanhas poderiam pensar: “Então só vou investir no Facebook e no Instagram, porque tenho recursos limitados e não dá para estar em todo lugar”. Isso pode até fazer sentido, dependendo do caso, mas é fundamental entender que as plataformas têm diferentes perfis de usuários e, portanto, às vezes faz mais sentido para a campanha investir no TikTok do que no Facebook, por exemplo.
A pesquisa “A cara da democracia” foi feita pelo Instituto da Democracia (INCT/IDDC), com 2.538 entrevistas presenciais em 201 cidades. A margem de erro total é de 1,9 ponto percentual a nível nacional, e o índice de confiança é de 95%. A pesquisa reúne as universidades UFMG, Unicamp, UnB e Uerj, com financiamento de CNPq e Fapemig, e está registrada no TSE (BR-08051/2022). (O Globo)
Siga-nos no Facebook e Instagram. Participe também dos nossos grupos no WhatsApp