Brunna Letícia Venâncio | Foto: Arquivo Pessoal |
A demissão de Brunna foi motivada por uma postagem feita em 8 de setembro do ano passado, um dia após as manifestações bolsonaristas em todo o país. “Sou completamente contra esse desgoverno e esse ser humano horroroso, corrupto, mal caráter, fascista, nazista, imbecil, incapaz e medíocre”, escreveu a jovem moradora de Macapá.
Em entrevista ao Metrópoles, ela afirmou que pensou muito antes de entrar na Justiça contra o próprio pai, mas que precisava buscar pelos seus direitos. “Me senti péssima, foi muito difícil, muitas crises de ansiedade e choro”, descreveu ao falar sobre o processo.
“Ninguém quer chegar a esse extremo. Eu não queria, mas ele não fez nenhuma questão de acertar os meus direitos.”
Ela ainda relatou que atualmente não tem relação com o pai. “Entendo hoje que a gente não tem que manter vínculo com quem não nos respeita e acaba de certa forma afetando nossa saúde mental”, contou.
A tatuadora atuava como supervisora de cadastro e vendas na empresa Grupo Popular, que tem seu pai como um dos sócios. Ela foi dispensada sem justa causa. No processo, a empresa negou que a demissão da mulher estivesse relacionada com suas opiniões políticas.
No entanto, em conversas com Brunna, fica clara a insatisfação do pai com as publicações. Em um dos áudios anexados ao processo, ele afirma que não vai aceitar manifestações contrárias.
"Tô falando agora com a plena consciência do que estou fazendo, tá bom? Não estou com raiva eu estou irado, ta (sic) irado com suas posições, com as suas manifestações, já que as redes sociais é (sic) suas “cê” faça o que quiser, pois continue fazendo, só que agora quem manda na empresa quem é o dono desse negócio sou eu, tá certo? E não vou te aceitar mais, cabou (sic)”.
Discriminação política
A juíza Camila Afonso de Novoa Cavalcanti, do Tribunal Regional do Trabalho da 8ª Região, entendeu que a conduta da empresa viola a legislação por promover discriminação por opinião política. A empresa ainda pode recorrer da decisão.
"No Brasil, vive-se um momento de extrema polarização política, de modo que poderia até ser compreensível que uma determinada empresa optasse por previamente aconselhar, jamais obrigar, que seus empregados evitassem se manifestar politicamente em suas redes sociais, a fim de evitar dissabores com eventuais fornecedores e parceiros comerciais. Todavia, tal diretriz prévia sequer foi ventilada na defesa da reclamada deixando claro que a motivação da dispensa foi estritamente pelo fato de a reclamante ter um posicionamento político diverso”, destacou a magistrada.
Ela ressalta ainda que a atitude da empresa afronta o direito à liberdade da manifestação, já que o conteúdo foi publicado na rede social individual da jovem, não da companhia.
A tatuadora acredita que, no fim, a justiça foi feita e espera que a ação incentive outras pessoas a combaterem essas práticas. “É inaceitável que em 2021 a gente seja censurado e demitido por não concordar com a opinião política dos outros”, protesta.
“Espero que isso motive as pessoas a correrem atrás do seus direitos e não se silenciarem diante de qualquer tipo de assédio. As pessoas que promovem essa e outras violências tem que responder judicialmente pelos seus atos”, finaliza. (Metrópoles)
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