Apesar de ter mandado abrir inquérito apenas sobre três institutos, Cordeiro disse ter feito ele mesmo “análises preliminares” que apontam discrepâncias em relação aos resultados de 19 institutos, sendo que 10 teriam errado a porcentagem de votos do candidato Luiz Inácio Lula da Silva para além da margem de erro e 18 teriam errado a projeção para a votação de Jair Bolsonaro para além da margem de confiança das pesquisas. Ainda assim, ele determinou a investigação sobre apenas três deles (Datafolha, Ipespe e Ipec).
Cordeiro foi indicado para o Cade pelo ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, que é coordenador da campanha à reeleição de Bolsonaro. Como mostrou o Estadão, no inquérito da Polícia Federal que apontou indícios da prática dos crimes de corrupção e de lavagem de dinheiro supostamente cometidos pelo ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, ele se referia a Cordeiro como “meu menino” e disse ainda: “eu botei ele lá”. A irmã do presidente do Cade, Sabá Cordeiro, é chefe de gabinete do ministro Ciro Nogueira.
As críticas não estão só no governo. No Congresso, o deputado Ricardo Barros (PP-PR) apresentou um projeto que prevê até cadeia para institutos que divulgarem pesquisas com discrepâncias em relação à margem de erro do próprio levantamento. No Senado, já existe um requerimento com assinaturas suficientes para pedir a instalação de uma CPI.
O pedido de Cordeiro foi feito à Superintendência-Geral do Cade, Alexandre Barreto, para que instaure um inquérito para apurar a “possível colusão” entre os três institutos com o intuito de manipular o mercado e os consumidores. No jargão do órgão- que lida com processos de fusão e aquisição, além do combate a cartéis – colusão é um tipo de conluio entre as empresas para causar danos a terceiros. O Estadão apurou que a proposta foi tratada com ironia no gabinete de Barreto, que informou a interlocutores que a deixará na gaveta.
No ofício assinado por Cordeiro, ele levanta suspeitas sobre as discrepâncias entre as pesquisas publicadas na semana anterior ao primeiro turno das eleições e o resultado apurado nas urnas. O presidente do Cade ainda cita matérias jornalísticas que mostram que as diferenças ficaram acima da margem de erro nas pesquisas sobre a corrida presidencial de vários institutos.
“Com efeito, chamou a atenção deste Conselho a grande diferença apresentada entre as pesquisas e o resultado das Eleições publicado pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral). A discrepância das pesquisas e do resultado é tão grande que verificam-se indícios de que os erros não sejam casuísticos e sim intencionais por meio de uma ação orquestradas dos institutos de pesquisa na forma de cartel para manipular em conjunto o mercado e, em última instância, as eleições“, acusou Cordeiro.
“Ocorre que, quando há uma grande quantidade de pesquisas que falham simultaneamente e no mesmo sentido, é pouco provável que este tipo de erro seja fruto de mero acaso (como a existência da coleta de um valor extremo amostral)”, argumenta Cordeiro. “É absolutamente improvável que a amostra da pesquisa em questão tenha sido bem desenhada, sendo o resultado da pesquisa um mero valor extremo e esperado do ponto de vista amostral. Tal improbabilidade de resultado levanta suspeita a respeito da independência das ações dos referidos agentes, pelos motivos já destacados“, completa.
Consultada pela reportagem, a Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa (Abep), informou que vai se pronunciar após analisar o caso do ponto de vista jurídico. As empresas citadas pelo Cade vão se manifestar por meio da entidade. Os institutos têm afirmado que não se trata de erros, mas que houve migração de votos de última hora e efeito da abstenção. Além disso, os levantamentos são retrato do momento. Neste ano, não foram feitas pesquisas boca de urna, feitas no dia da eleição.
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