Wandercock do Nascimento, membro da Irmandade do Bom Jesus da Paciência ao lado de Narcisa Cândida, Yalorixá Filhinha, atrás Isaltina, a Zartina Todos já falecidos - Foto: Lena Trindade |
Membros da Irmandade do Bom Jesus da Paciência exerceram esse papel até a sua dissolução por iniciativa da igreja. Descendentes de integrantes da extinta Paciência recordam da íntima ligação dessa irmandade com a da Boa Morte. "Os irmãos da Paciência participavam de todo o processo de preparação da festa, inclusive da eleição para escolha dos nomes das irmãs para comissão", contam.
"As escolhas eram feitas por meio de consultas com o jogo de caroços de feijão, sempre com o acompanhamento de irmãos da Paciência", recorda o escultor Fory, filho de Wandercock do Nascimento, Seu Coquito, presidente da Paciência durante anos. Ele acrescenta: "Meu pai, costumava levar meu irmão mais velho para auxiliar nas escritas das reuniões. Meu pai já faleceu, mas o meu irmão está vivo e pode confirmar".
Ainda faz parte da memória da criança e do então adolescente Fory, a presença em sua casa do famoso Babalorixá Nezinho do Portão de Muritiba, sempre no início do mês de agosto para os preparativos da Festa da Boa Morte. "De Salvador, vinha um senhor idoso negro e cego, devoto da Santa, cachoeirano que residia na Capital". Outra presença marcante em sua memória, também em sua casa, era da Yalorixá Perina, integrante da Boa Morte.
"Dona Perina tinha grande influência e poder dentro da Irmandade. Ela possuía mais recursos financeiros do que as demais irmãs e, graças a sua posição colaborava para a festa com dinheiro e carnes para o preparo das comidas servidas durante os dias das funções". Dona Perina era feirante, vendia carne na feira livre de Cachoeira. "Seus descendentes estão vivos", ressalta Fory.
Do que ouvia das conversas do pai com essas pessoas na sala de sua casa em frente a Igreja Matriz, Fory lembra que os parcos recursos da irmandade da Boa Morte eram para pagar o padre pelas celebrações das missas e a filarmônica. "Muitas vezes, a Paciência socorria a Boa Morte para a realização da festa com recursos de um fundo próprio".
Fory lembra que muitas pessoas da cidade, faziam doações para que a festa fosse realizada. Como exemplo, cita Roque Pinto, o seu já falecido padrinho e fabricante de licor. Este, segundo Fory, doava as bebidas. "Mestre Machado e sua esposa Dona Zuleika, além de cachoeiranos que residiam em Salvador e outros doavam dinheiro", relata o escultor. "Mesmo com muitas dificuldades, a festa nunca deixou de acontecer graças aos devotos, pessoas do povo e as irmãs", finaliza.
*Alzira Costa é jornalista, moradora de Cachoeira
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