Pessoas com olhos azuis devem ser proibidas de se casar

Foto: Michael Morse - pexels.com
Por Luiz Gaziri
Parte da população acredita que o homossexualidade é contra a naturalidade humana e usa a palavra de Deus, “Crescei e multiplicai-vos” para justificar seu ponto. Porém, um estudo realizado por cientistas da Universidade de Padova evidencia algo diferente. Ao analisar uma amostra de 98 homossexuais e 100 heterossexuais e seus familiares, totalizando mais de 4.600 indivíduos, os cientistas descobriram que as avós, mães, irmãs, tias e demais parentes do sexo feminino de homossexuais são mais férteis do que as de heterossexuais. Isto significa que as mulheres de famílias que possuem homossexuais reproduzem em maior quantidade do que as mulheres de famílias compostas apenas por heterossexuais. Outros estudos ainda apontam que homossexuais têm vários irmãos homens heterossexuais e, geralmente, são os últimos ou penúltimos a nascer em famílias numerosas. Multiplicar-se em grandes números parece ser a regra natural para famílias de homossexuais, mas a religião continua sendo usada por muitos para discriminar, ao invés de buscar tolerância e compaixão.

Já o cientista Simon Levay, que lecionou em instituições como Harvard, Universidade da Califórnia e Stanford, descobriu que o hipotálamo – parte do cérebro responsável pela orientação sexual – apresenta diferenças significativas entre hetero e homossexuais. Uma parte desta estrutura, nomeada como INAH3, que geralmente tem o dobro do tamanho em homens em relação às mulheres, não apresenta essa diferença em homossexuais. Essa diferença não é um defeito, mutação ou algo parecido, mas sim algo natural que acontece com frequência, levando em consideração que em qualquer cultura do planeta, de 5% a 20% das pessoas se consideram LGBTQIA+. Essa descoberta foi feita em 1991, o que demonstra o atraso de políticos do mundo todo ao compreender que ninguém "escolhe" ser homossexual ou transgênero, assim como ninguém escolhe ter olhos azuis. Se um político sugerisse a proibição do casamento entre pessoas de olhos azuis, certamente classificaríamos a ideia como ridícula, portanto, o mesmo deve ser feito com a ideia da proibição do casamento de homossexuais.

Falácia Naturalista

Atualmente, muitas pessoas são vítimas da Falácia Naturalista, uma falha cognitiva amplamente documentada pela ciência. Nessa visão, se negros, mulheres e homossexuais têm menos oportunidades é por que o mundo simplesmente opera dessa maneira e assim deve continuar. Este fenômeno também explica o preconceito que muitas pessoas têm com homossexuais – tudo que não é considerado “natural”, não é ético, limpo, divino ou bom, na cabeça de muitos. No entanto, até o momento, os cientistas já catalogaram mais de 1.500 espécies que possuem comportamentos homossexuais e essa lista cresce a cada ano. Se isto ainda não nos faz aceitar que o homossexualismo é algo natural e portanto, deve ser respeitado, eu não sei quais outras evidências seriam necessárias.

Ódio nas redes

Há um grande perigo quando um governo, ou mesmo um grande líder religioso ataca algum tipo de minoria, geralmente buscando uma promoção de sua imagem nas Redes Sociais visando capital político eleitoral. Um grande corpo de artigos científicos indica que autoridades têm uma influência enorme no comportamento das pessoas. Toda vez que líderes disseminam suas opiniões, as pessoas acreditam cegamente, pela crença de que autoridades têm informações privilegiadas e devem saber o que estão falando.

Em 2020, o cientista Jay Van Bavel, da New York University (NYU), realizou uma pesquisa nas mídias sociais e descobriu que toda vez que se faz um post hostil sobre um grupo “inimigo” as pessoas compartilham de forma dobrada em relação a um post sobre o próprio grupo. "Além disso, cada termo hostil contra esse grupo considerado inimigo aumenta em 67% a probabilidade de compartilhamento”, afirma Gaziri.

A cientista Molly Crockett, da Princeton, publicou dois artigos na Nature e na Science (as revistas mais respeitadas no mundo da ciência) revelando que todo conteúdo que traz um assunto no campo da moralidade (família e religião) evoca maior engajamento das pessoas nas mídias sociais e faz o algoritmo levar o post para o topo do feed. Existe um mecanismo de recompensa que é atingido por essas pessoas quando compartilham algo que critique algum comportamento considerado como “violação moral”, que ativa o sistema de dopamina no cérebro. As pessoas compartilham esse tipo de conteúdo porque antecipam que haverá um tipo de recompensa: curtidas, comentários e engajamento. Esse mecanismo de antecipação de recompensas, ativada pelo neurotransmissor dopamina, também faz com que as pessoas fiquem viciadas no processo. Um dos maiores riscos de compartilhamentos massivos nas redes sociais é a exposição que as pessoas têm a novas ideias. Sozinho, um indivíduo não consegue pensar em todas as razões pelas quais não gosta de certo grupo, mas quando lê novas opiniões de mentes similares, ele passa a assumir posições cada vez mais extremas, comportamento que conhecemos como polarização.

Enquanto nossos políticos não se atualizarem com as últimas evidências científicas, o povo continuará a custear discussões ultrapassadas e sem sentido, fazendo com que o nosso país não avance em pautas mais importantes para o bem-estar da população.

Sobre Luiz Gaziri

Luiz Gaziri é um dos pensadores mais provocativos da geração atual, remodelando a nossa forma de pensar sobre negócios, felicidade e comportamento humano com uma abordagem totalmente baseada em evidências científicas. Luiz é professor de “Psicologia Positiva” no MBE da Unicamp e na FAE Business School.

É autor dos livros: "A Ciência da Felicidade" e "Os Sete Princípios da Felicidade" e "A Incrível Ciência das Vendas". Sua mais recente obra, "A Arte de Enganar a Si Mesmo", será lançada em outubro de 2023. Seus livros receberam elogios de dezenas de cientistas de instituições como Harvard, Yale, Stanford e Wharton, sendo destaque também em grandes veículos de imprensa.

Ele também é palestrante e consultor corporativo. Formado em Administração de Empresas na FAE Business School, MBA pela Baldwin-Wallace University (Cleveland, EUA). É especialista em Liderança pela London Business School (Londres, ING). Trabalhou por quase duas décadas como executivo em empresas dos mais variados segmentos e portes. Entre suas centenas de clientes de palestras e consultorias estão empresas como BRF, Arcelor Mittal, Dunlop, Arauco, EBANX, Unimed, Sicredi, HSBC, Suzano, TEDx, Banco do Brasil, Electrolux, EY, Segfy, KPMG e Sankhya.

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