Livro de Walter Fraga, professor da UFRB, vence prêmio da Fundação Biblioteca Nacional

O professor da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), Walter Fraga, venceu o prêmio literário da Biblioteca Nacional de 2024, na categoria Ensaio Social, com o livro "Longe, muito longe: Manoel Benício dos Passos, um capoeira no ativismo do pós-abolição". A premiação é realizada pela Fundação Biblioteca Nacional (FBN), entidade vinculada ao Ministério da Cultura (MinC), e o resultado foi publicado em dezembro de 2024. 

Fotos: Divulgação 
A obra narra a trajetória singular do capoeira baiano Manoel Benício dos Passos, representação encarnada do ativismo político negro e popular em um momento crucial da história do Brasil. A partir da história do personagem, o livro de Fraga reflete sobre raça e racismo nos anos finais do século XIX, um “momento decisivo para entendermos os dilemas que ainda hoje aprisionam o Brasil num modelo desigual e excludente”, contextualiza o autor. Fraga complementa que conhecer a vida de Manoel Benício também permite ao leitor “entender como os projetos de nação inclusiva e mais justa estavam na base dos sonhos e expectativas que emergiram das lutas contra a escravidão”.

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Além do prêmio da FBN, “Longe, muito longe” também foi semifinalista na categoria História e Arqueologia do prêmio Jabuti Acadêmico. O reconhecimento da obra surpreendeu positivamente o autor. “Quando comecei a escrever este livro não esperava que ele tivesse esse reconhecimento, pois se trata de um texto biográfico de um personagem que ao longo do tempo caiu no esquecimento ou foi folclorizado como representante de uma Bahia antiga e tradicional”, afirma Fraga. 

Longe, muito longe: Manoel Benício dos Passos, um capoeira no ativismo do pós-abolição

A trajetória singular do capoeira baiano Manoel Benício dos Passos, representação encarnada do ativismo político negro e popular em um momento crucial da história do Brasil. O livro reconstitui a vida de Manoel Benício dos Passos (1866-1898), um homem negro, que nas ruas de Salvador ficou conhecido pelo curioso apelido de Macaco Beleza. Ao longo de 32 anos, viveu acontecimentos cruciais da História do Brasil, ou por eles foi diretamente afetado, como a Guerra do Paraguai, o Movimento Abolucionista, a consequente abolição da escravatura e os tormentos que se seguiram aos anos iniciais após a Proclamação da República.

Manoel Benício foi preso por "desordem" aos 14 anos (teve mais de trinta registros de prisões ao longo de sua vida); militou no abolucionismo com a distribuição jornais abolucionistas e se tornando porta-voz da causa e militante ao realizar o enfretamento com as elites ao ler em voz alta em locais de grande movimentação de escravos e cativos, do teor das notícias que defendiam a causa.

Em 13 de maio de 1888, a esmagadora maioria da população negra não vivia mais sob o status legal de escrava; era livre ou liberta. Com a Lei Áurea, as elites jogavam a toalha diante de um processo irreversível, e que haviam feito de tudo para retardar. Restava decidir sobre o sistema político: Monarquia ou República? Qual dos dois regimes serviria melhor à nação?

Nos primeiros dias de 1889, aos 23 anos, Manoel Benício passa a figurar como uma liderança da chamada Guarda Negra, uma organização formada por libertos monarquistas que em muitas cidades do Brasil saíram às ruas em defesa do trono contra ataques desferidos pela propaganda republicana - a República foi proclamada em 15 de novembro de 1889.

Outras obras de Walter Fraga

Entender o papel de Manoel Benício e seu ativismo político antes e depois da queda da Monarquia, está última lhe rendeu dois anos de prisão no Amazonas e em Fernando de Noronha, e a sua posterior libertação e participação em movimentos de rua em Salvador em 1892 e 1893, é parte da história reconstituída pelo jornalista, professor e pesquisador Walter Fraga, autor de livros como "Mendigos, moleques e vadios na Bahia do século XIX" (Hucitec/Edufba, 1996) e "Encruzilhadas da liberdade: histórias de escravos e libertos na Bahia, 1870-1910" (Ed. Unicamp, 2006).

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