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Fotos: Reprodução | Roberto Luís |
Mais à frente, mais um espetáculo se revela: as “caretas”. As famílias que compõem esses grupos estão cada vez melhores. É impossível não notar o capricho e a ousadia nas fantasias. As máscaras de látex, idênticas e minuciosamente trabalhadas, criam personagens que parecem saídos de um sonho estranho — desses que você não quer acordar. As roupas simetricamente desenhadas formam um balé de cores e de peso. Os movimentos coreografados, a disciplina na dança, a leveza nas brincadeiras. Quem vê de longe, jura que foi ensaiado, mas quem conhece sabe: é pura alma.
E os grupos fantasiados seguem o fluxo. Cada um com seu tema, cada um com sua verdade. Tem personagens do folclore, tem super-herói, tem aquele tipo que você nem sabe bem o que é, mas não consegue desviar o olhar. É a criatividade sem freio, sem medo de ser demais. E, convenhamos, aqui em Muritiba, nada é demais. Só o sol, mas disso a gente dá um jeito.
A festa acontece agora, enquanto você lê. As ruas estão tomadas, os grupos dançam, as histórias se constroem nas encruzilhadas, nas ruas e vielas. A cada esquina, uma surpresa. A cada sorriso, uma promessa de que, ano que vem, vai ser ainda melhor.
E se você acha que acabou, engana-se! A festa continua, ainda tem a lavagem do Manteiga, dos Amigos e de Xarita. Cada uma com sua energia, suas cores, seus rituais. Muritiba segue dançando, cantando, vivendo sua própria epopeia popular, como se o tempo tivesse feito uma pausa gentil para que o povo celebrasse sem pressa.
Muritiba, hoje, escreve seu próprio enredo. E o que se vê aqui é mais do que uma festa: é a expressão de um povo que transforma memória em movimento, fé em folia e cultura em patrimônio vivo. Já passou da hora de tombar essa tradição, registrar cada detalhe, eternizar essa identidade. Que a Festa do Senhor do Bonfim seja Patrimônio Imaterial dos muritibanos e da Bahia. Porque o que acontece aqui merece ser vivido, contado e celebrado — sempre.
Agora, deixo vocês com os registros fotográficos de Roberto Luís. Permitam-se mergulhar nessas imagens e sintam, ainda que à distância, a mesma euforia que me invade ao vivenciar e escrever cada linha desta festa.
*Láiza Mello é muritibana, ativista cultural e criadora de conteúdo digital
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